Na economia, fala-se em crises do tipo V, ou U ou W. Uma
situação menos boa que se recupera rapidamente depois de atingido um mínimo, ou
que recupera depois de um período mais ou menos longo de estabilização em baixa
ou ainda, que recupera, volta a cair, antes de embalar para uma recuperação final.
Nada disto acontece ou acontecerá.
Primeiro, porque a nossa referência (a vida tal como era) suportou-se em empréstimos. Vinte por cento do que custava, não produzíamos. Alguém nos emprestava.
Depois, porque todos contavam com o crescimento económico para
manter esse nível de vida e ainda, para pagar o que custou a manutenção desse estado ilusionário de riqueza (sim, éramos ricos e não sabíamos) à espera desse crescimento…
Finalmente: esperamos tanto por isso (pelo crescimento que
nunca virá) que os défices acumulados acabaram por resultar numa dívida gigantesca cujo peso se juntou ao excedente de boa-vida a que nos habituaram e que deixou, de um momento para outro, de existir e de poder existir por não nos emprestarem mais dinheiro, para isso.
Agora, não temos nem teremos crescimento, temos uma dívida
que custa balúrdios, ninguém nos empresta dinheiro e continuamos a viver acima
das nossas possibilidades.
Infelizmente, há uma crise. Mas não é AQUELA crise, daquele
tipo. A crise que vivemos é uma crise das não soluções. Da terra de cegos onde
não há quem tenha um olho.
Temos, por um lado, os que criaram a crise.
E temos, por outro, os que tentam resolve-la de uma
determinada forma (infelizmente errada ou incompleta, no mínimo), acossados
pelos primeiros, que apresentam como alternativas, exactamente os processos que
conduziram ao estado actual das coisas. Mas, neste erro, estes nem conseguem descrever com que dinheiro fariam isso (porque quando lá estiveram, no Governo, ainda havia quem caísse na ilusão de lhes emprestar).
Esta é a nossa verdadeira crise. Nem num lado, nem noutro,
temos perspectivas de futuro na dimensão necessária para nos safarmos mais ou menos...
1º Temos que realizar que não vivemos uma crise. Vivemos um
período de ajuste em baixa. Vamos sair do túnel onde nos metemos, bem abaixo do
ponto onde entramos. Coloquei este ponto como o primeiro pois nem o Governo nem
a oposição assumem isto. Mas todos sabem que é e será assim. Mas, mantendo a
ilusão que um dia poderemos voltar ao que eramos, só poderemos criar frustrações
e pontos frágeis de potencial rotura social.
2º A queda poderá ser brutal. O trabalho bem feito será conter
essa queda. O mais possível. Sustentada e equilibradamente. Se isto for
conseguido estaremos bem entregues. Pois, voltar ao que éramos é impossível... e manter esta ilusão é um erro grave.
3º A esquerda não tem solução nenhuma. Nada. Zero. Apenas
cavalgam a insatisfação social. E a expectativa impossível de voltarmos a ter aquela vida (que se sustentava no que nos emprestavam). E aproveitam, também, a falta de experiência e de soluções do
Governo PSD-CDS. Que lá estão numa tentativa de resolver um problema que só existe
pela desgovernação da esquerda.
4º O Governo tem tentado. E, tendo visto que por aqui (austerismo
puro) não vai, já deveria ter inflectido. Partindo para novas soluções.
5º Novas soluções não são antigos processos (isso é o que
quer a esquerda anacrónica). Nem serão políticas de Estado reforçado (mais impostos). Novas soluções passam por inovação e passos em
frente e não passos atrás. Neste ponto caberá ao PS a palavra-chave. Que não
poderá ser a palavra que de lá tem saído…
As soluções existem e também passam por austeridade. Pois
precisamos de ajustar em baixa. Mas na medida certa. Uma quimioterapia que mate as células más, mas que deixe as boas células na quantidade necessária (há sempre efeitos colaterais) para que reste alguma vida, a reconstruir, depois do tratamento...
Temos de passar do objectivo “voltar ao que éramos" ou “recuperar a vida que tínhamos” e procurar o “não cair demasiado e de forma controlada”. Para isso:
Temos de passar do objectivo “voltar ao que éramos" ou “recuperar a vida que tínhamos” e procurar o “não cair demasiado e de forma controlada”. Para isso:
Precisamos de refundar o memorando com a troika. E com o PS.
1.Focalizar no défice e não na dívida (esta seria “congelada”).
2.Criar instrumentos alternativos aos mercados financeiros para financiar o Estado e olear a Economia.
2.Criar instrumentos alternativos aos mercados financeiros para financiar o Estado e olear a Economia.
9.Redefinir o papel do Estado na Sociedade (poderíamos começar
por aqui, mas já não haverá tempo), consolidando-o numa nova Constituição.
Ou refundamos ou afundamos.
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