outubro 27, 2015

O que aí deve vir

Cavaco fez bem e falou melhor.

Tomou a sua decisão com base nos resultados eleitorais e no que lhe foi apresentado pelos partidos nas audiências impostas pela Constituição. Nomeou Passos Coelho. E disse o que tinha a dizer. Balizado na legitimidade da “sua” maioria, que o elegeu.

Os partidos de esquerda nada tinham em carteira, para além de referirem que estavam a negociar e que havia boas perspetivas com vista a um governo de esquerda, do PS, apoiado pela frente comum na assembleia. Mas, em concreto, nada (nada mesmo) que pudesse alterar a decisão presidencial desviando-a da nomeação do vencedor das eleições.

Com se está a assistir, tudo é previsível: o PS ensandeceu, o BE aproveita o comboio (está por cima) e o PCP ri-se a bom rir. Basta-lhe dizer que prefere um Governo PS ao governo da coligação.

Finalmente, Cavaco fez o seu alerta. Como é devido à sua posição, que não é igual à da “rainha de Inglaterra”. E, grosso modo disse que a democracia é o sistema que aceita todos, mesmo os não democratas. Mas que há que zelar por ela pois, se os não democratas passam a ter preponderância (e é o PS que lhes dá esse poder, que fique claro), arriscamo-nos a evoluir para um sistema (que é defendido por essa minoria – 20% dos votantes) onde passam (ver Venezuela, Angola) onde não cabem todos, mesmo.

Uma nota: se quisermos dividir o espectro partidário português, é muito claro que os partidos de direita são quase inexistentes. Que teremos os partidos da coligação no centro (agora está na moda dizer que são de direita). E o PS que será de uma esquerda moderada muito próxima do PSD. À esquerda, radical e outros, 20% de votantes no BE e CDU. O facto novo é simples de descrever: a estratégia de Costa na campanha foi de discurso á esquerda. Para captar os votos úteis da esquerda. Ora esses votos, fugiram-lhe para os seus agora companheiros frentistas. Mas, depois das eleições, fugiu em frente. E continua a agir nessa área, usurpando os votos do PS que não se revêm nesse discurso extremo-frentista de esquerda…

Mas, e agora?

A frente comum vai deitar o Governo abaixo.
Nas audiências que se seguirão, Cavaco deverá exigir um acordo de Governo explícito e público. Uma espécie de compromisso com o País. E deve exigir a participação dos três partidos que suportarão esse governo no mesmo. Comprometendo todos. E, ao contrário do que diz essa e muita esquerda, valorizando a mesma. Devem estar todos “dentro” e só isso assegurará a tão apregoada “estabilidade”.

Depois, veremos.
Se não, governo de gestão.

Fica nas mãos dos 3 partidos da frente comum a decisão. Ou todos alinham e o governo de esquerda avança ou então o governo que venha a ser nomeado com o PS será tão estável como o da coligação. Pelo que, nesse caso, ficaria o governo da coligação (como vencedora das eleições) em gestão até ao próximo presidente decidir por novas eleições.

A frente comum quer ser governo? Tudo bem. Justifique isso, produzindo um acordo governamental (referindo a participação concreta dos 3 partidos no Governo), que seja claro e publico para validação presidencial. E que contenha os elementos necessários para uma estabilidade que abranja, no mínimo 2 orçamentos.


Afinal, os votantes (principalmente os do PS) deverão ter bem claro o (novo) programa da frente comum (os compromissos que se assumem) bem distinto da soma dos programas eleitorais dos partidos em questão. Pois isso seria uma salganhada.

outubro 23, 2015

As virgens ofendidas

Ontem, a Frente Comum de esquerda falava de veto presidencial. Não ouvi nada disso da boca de Cavaco.
Entendi que a sua única opção, ontem, só podia ser Passos Coelho. Porque ganhou as eleições e porque Costa não lhe apresentou (não apresentou a ninguém) qualquer sustentação forte e evidente para um governo da Frente Comum de Esquerda que (blefam eles) poderia ser, ontem, opção de Cavaco.

Para além da falta de concretização do acordo de governo à esquerda, Cavaco elencou outras razoes (do seu ponto de vista) que apontam para a fragilidade de um governo “desse lado” mais a mais sem acordos concretos.

Esta reação é típica e clara. Costa e o PS entende (e quer) o adiamento da sua indigitação para continuar a pressionar o Bloco e a CDU no sentido de uma maior aproximação (á realidade). Coisa que será impossível pois o BE está “por cima” e porque à CDU apenas interessa apear a direita do governo.

Claro que, sendo assim, a decisão de Cavaco, ontem, apenas poderia ser a tomada.

Agora, o PS terá que assumir. Ou está com Costa rumo ao descalabro (levando com eles o País) ou descarta-se já.

O BE quer o poder e vai lá chegar. Levará exigências que o PS não terá força para recusar. E serão essas exigências que arruinarão o País levando-o à bancarrota de novo. Das cinzas restará o Centro-Direita para recuperar, de novo, o País, à grega, com austeridade reforçada (serão 4 anos perdidos, um de desbunda e três de mais sacrifícios) e a CDU que retirará o tapete (e os dividendos) logo que o PS e o BE estejam bem “secos” (na ressaca da bancarrota) com vista a novas eleições dentro de um ano.

PS: as avoilas deste mundo já estão a aligeirar exigências e a aceitar a vigência e arrastamento de situações que antes eram inconstitucionais, ilegais e de revogação imediata. Coisas que só acontecem quando a esquerda iluminada tem perspetivas de mandar…

outubro 22, 2015

Tudo claro

Os dados estão lançados e, para Costa, já não há recuo possível.
Mas para o PS ainda há uma saída.

Costa fugiu em frente e, consigo, arrasta o PS e os eleitores que nele votaram mas que não escolheram o que Costa quer fazer.

A estratégia eleitoral de Costa foi de largar a direita, contando que a insatisfação nessa área lhe garantiria – sem mais esforço - os votos necessários, concentrando os seus esforços e argumentos à esquerda. Apontou para aí as suas políticas e o seu discurso. E perdeu…
Mas é esse discurso que Costa manteve depois da sua derrota. O discurso orientado para os votantes que… lhe fugiram.
Pelo que Costa está a usurpar os votos do PS (os 32% que ficaram lá), agindo nos termos dos votos que perdeu (ou que não conquistou) à esquerda.

Uma trapalhada…

Como resultado disto, serão as políticas demagogas que conquistaram 20% dos votantes (mais à esquerda) que governarão o País.
Nesta fuga para a frente, os prognósticos não precisam ficar para depois (como diria o outro. São simples de concluir: Costa aposta tudo e vai perder. O PS ou segue com ele ou perderá o mesmo. Simplesmente, enquanto Costa é substituível, a perda do PS poderá ser definitiva. Porque na frente de esquerda que se está a formar, a força está com os dois mais pequenos.
Mas, com todos estes, perderá o País. Mais um ano de desbunda e três de recuperação. Quatro anos perdidos para voltarmos à situação atual. São estes os prognósticos.

Cavaco deve nomear Passos.
Dessa forma, cumpre os preceitos usuais e obriga o PS (e a esquerda) a quebrar, pela negativa, a coligação vencedora das eleições.
O Governo de esquerda que se segue só poderá subsistir com o PS ajoelhado perante os dois parceiros mais á esquerda. Porque a aposta nesta solução é do PS (ou de Costa). Porque para os outros, são só mais-valias se conseguirem impor as suas exigências. Porque sabem que não podem ceder para políticas de austeridade o que provocaria uma razia na sua base de votantes que votaram claramente (os referidos 20%) nas opções demagógicas tipo Siryza/Comité Central.

Pelo contrário, o PS tem tudo a perder se segue com isto. As suas cedências (não há saída) trarão mais défice, menos investimento, mais desemprego, fim dos financiamentos externos necessários, mais dívida. E isto tudo muito rapidamente.
Para Costa, entende-se este caminho. Era isto ou … isto.
Para o PS, terá a palavra o PS. E quem possa defender as políticas que garantiram os 32% obtidos.

O PS quer a nomeação de Passos. Isso dá-lhe tempo para tentar dobrar (o que for possível) o BE e CDU. O argumento é simples e é o “do mal, o menos”. Ou o PS ou a direita. Só que, para esses partidos, qualquer austeridade será má e será impossível de gerir (e de votar a favor dela). Daí que o PS vai esconder o acordo que será sempre um acordo mau para o PS pois conduzirá (mais uma vez) o País à bancarrota.

A saída existe e está nas mãos do PS histórico, de gestão prudente. Mas essa solução impõe a saída de Costa, a cedência total (talvez por dois anos) do País à coligação e o reforço (mais um pouco) da sua esquerda. Mas, mesmo assim, será uma perda controlada face ao fim do partido (com consequências graves para o País) caso se valide e se siga em frente com a loucura de Costa.

outubro 19, 2015

Tudo confuso

Costa tomou as rédeas do processo de criação de um novo Governo apesar da sua clara derrota eleitoral.

Na ansia de chegar ao poder poderá estar a dar um passo fatal para o Partido Socialista.
A verdade é que 70% dos votantes ficaram no lado das políticas corretas, dos cuidados e prudência orçamental.

O que Costa não entendeu (ou quer ignorar) é que o resultado da sua estratégia de esquerda saiu errada pois os eleitores mais à esquerda potênciais votantes PS (quando há voto útil) acabaram mesmo por não votar socialista. Reforçando o BE e CDU.
Quem restou no PS foram os seus eleitores de base, fieis, da esquerda moderada.

Ora, é contra todos estes eleitores (os que lá ficaram) que Costa está a agir. De acordo, é verdade, com os conteúdos (falhados) da sua campanha, que se dirigia especificamente a quem acabou por não votar nele.

A fuga para a frente poderá ser dramática para o futuro do PS como partido razoável, sempre disponível para uma governação alternativa e prudencial que é exigível nos dias de hoje.

Ninguém duvida que Costa derrubará o Governo Passos que será nomeado por Cavaco (mas aí terá que assumir as razões para essa decisão) tomando o lugar de primeiro ministro num governo suportado por uma maioria parlamentar fragilíssima. 

Nínguém acredita que o BE e a CDU venha a viabilizar um governo que não cumpra com algumas das suas linhas políticas essenciais. Ora, essas políticas serão razão para uma quase imediata quebra de financiamento exterior e uma degradação rapida do défice orçamental.

Num ano estaremos à beira da bancarrota e em ano e meio estamos num novo plano de recuperação com uma qualquer troica cá dentro.
É que não há forma de seguir as políticas defendidas pelos partidos da extrema esquerda sem dinheiro emprestado. O problema é que ninguém o emprestará.

Pelo que já começa a ser repetitivo: a fábula da Cigarra e da Formiga não tem exemplo mais fiel do que aquele que se passa em Portugal...

outubro 05, 2015

PaF foi (suficientemente) longe

Uma maioria grande e boa. Foi o pedido, foi o concedido pelos eleitores.
O Governo conteve as suas perdas a cerca de 12%.
O PS não capitalizou esse desgaste (os indecisos ao centro) e perdeu o voto de protesto para o BE.
Vêm aí anos difíceis, mas não impossíveis.

outubro 02, 2015

Reta final : PaF vai lá?

Nesta reta final da campanha eleitoral, ainda há alguns fatores em jogo: será o PaF capaz de recuperar a massa indecisa ao centro que lhe garantiu (e garante todas) a maioria absoluta em 2011?
Seria um enorme feito, claramente de Passos Coelho, se assim fosse.

E a verdade é que é bem possível. O PS, contando que à sua direita eram favas contadas, atacou à esquerda e fez um discurso à Syriza. Neste momento, arrisca-se a perder tudo, à esquerda e à direita restando-lhe apenas a sua base fixa que rondará os 25% a 30%.

1)À esquerda perderá tudo devido à inutilidade do voto útil. Porque para um governo à esquerda, quem é próximo do BE ou da CDU vai lá votar para fazer crescer o peso da decisão destes (dos seus) partidos.

2)À direita, todos os que tenham um palmo de testa, que entenderam que as políticas seguidas nos últimos anos foram as necessárias depois da desbunda do governo do PS, ao desenvolver as (mesmas) políticas que agora Costa anuncia.

3)Os ainda indecisos dessa zona, talvez se decidam a re-votar na coligação face à perspetiva de uma maioria socialista que, a ser governo, será sempre Syriza levando-nos para o beco sem saída da Grécia. Maioria que será mais gravosa pois terá um PS fragilizado e um BE e/ou CDU reforçados a pedir políticas suas.

4)No próprio PS começa a ser confrangedor o gaguejar, a argumentação incongruente, as promessas ocas. Não há consistência. Não há confiança.

Mas, a verdade é que podemos cair no fosso da esquerda.

As democracias ocidentais estão claramente fragilizadas. À esquerda ou à direita. E isso por culpa própria. É urgente entender que não há mais crescimento económico e que por aí não se vai. Não podem existir défices públicos e só podemos contar com o que produzimos (e vendemos). Mas acima de tudo é absolutamente necessário repartir o trabalho disponível (e o respetivo rendimento). Porque, se assim não o fizermos teremos menos nascimentos e mais emigração jovem - que farão toda a falta no nosso futuro - e ainda mais subsidiados (a dar votos às margens políticas demagógicas que prometem mais subsídios) que são quem passa a decidir eleições.

No dia em que houver mais subsidiados do que trabalhadores a votar, é o fim.