Todos os anos, por esta altura, o ME disponibiliza os dados referentes aos exames nacionais do ensino básico e secundário.
De imediato, elaboram-se todos os tipos de rankings.
Por escolas, geográficos; isolando os estabelecimentos públicos,
privados, etc…
E abre-se uma “janela” de discussão – recorrente e
repetitiva - sobre a validade dos mesmos para classificar as escolas; se os resultados
devem ou não ser ponderados com dados socioeconómicos dos alunos; da
preponderância do ensino privado sobre o ensino público; da importância de
outros factores e valores transmitidos pelas escolas mas não avaliados; da liberdade de escolha da escola pelas famílias.
Tudo treta.
Os resultados obtidos resultam apenas de um único factor: a formação da família do aluno. Tudo o
resto é, simplesmente, consequência…
Quanto maior for a formação referida, é mais provável que o
aluno:
tenha frequentado a Educação Pré-Escolar (por mais anos);
tenha apoio escolar em casa;
tenha reduzidos níveis de insucesso;
tenha tido acesso a actividades complementares enriquecedoras;
tenha mais elevados níveis socioeconómicos;
tenha acesso a escolas com determinadas características,
nomeadamente com colegas cujas famílias têm níveis formativas semelhantes ou
superiores aos seus;
e, finalmente, tenha bons resultados escolares…
É claro que haverá alunos que escapam ao "destino” e, partindo
de famílias de menor nível formativo, demonstram capacidade acima do normal ao atingir resultados de qualidade significativa. Estes alunos são uma excepção e justificam por inteiro todo o tipo de apoio que seja necessário, a conceder sem hesitação.
Também haverá outros que, em sentido inverso, não potenciam
o facto de serem originários de uma família com formação acrescida. E caiem…
Mas a regra valida-se, sem prejuízo dessas excepções: o
factor determinante (quase em exclusivo) para o resultado destes exames é a
formação das respectivas famílias.
Quanto às Escolas, o importante é que não “atrapalhem”.
Haverá umas que acrescentam alguma coisa, outras que nem tanto. Mas a verdade é
que não são determinantes nos níveis atingidos pelos alunos. São importantes
mas não determinantes. Mais uma vez, sem prejuízo da existência de algumas excepções
(positivas e negativas) onde a liderança e a qualidade do trabalho do grupo
docente pode influenciar, “furando” a norma. Pode acontecer. Aqui ou ali.
Estas evidências tornam dispensáveis as pretensões de
qualidade das escolas mais bem situadas nos rankings publicados. A verdade é
que esse ranking apenas reflecte condicionantes que vêm de fora (da escola) e
de trás (formação dos progenitores).
Os alunos que agora terminam o Secundário terão entre 17 e
20 anos. Se considerarmos que os seus pais terão mais 25 a 35 anos que eles, aqueles terão entrado na escola primária há 36 a 49 anos atrás. Ou seja, entre
1963 e 1975.
Assim, porque será que alunos na zona de Coimbra ou Lisboa
terão melhores resultados que os alunos de Portalegre e dos Açores?
Simplesmente porque os seus pais, naqueles anos remotos,
encontraram, na zona de Coimbra, melhores condições de frequência e a
perspectiva de uma mais longa carreira escolar/universitária do que os restantes.
Ou porque, mesmo originários de outras zonas do País, ali se
fixaram (na zona de Coimbra ou Lisboa) na procura dessa formação acrescida que não
poderiam obter na sua zona de origem.
Até o facto de Coimbra ter hoje uma oferta superior de
escolas privadas (em relação a outras zonas do País) deverá ser consequência daquela situação. A verdade é que, desde
há mais tempo (desde aqueles tempos), os residentes ali – ou que para ali se deslocaram, provenientes de outras zonas do
País – criaram uma determinada procura educativa que obteve uma resposta na criação
dessas escolas. Não deve ser difícil obter a confirmação estatística que a formação dos
pais dos alunos de Coimbra é, em média, bem superior às encontradas em Portalegre ou nos
Açores, justificando a diferença de resultados obtidos pelos seus filhos nos exames do Secundário.
Pelo que, sim: os Rankings publicados não avaliam Escolas, nem as mais valias que
induzem nos alunos respectivos.
Apenas reflectem os resultados pontuais dos mesmos, que, por sua vez, respeitam à formação dos respectivos progenitores.
Para avaliar as Escolas, seria necessário considerar os alunos,
não apenas naquele ponto único (exame do secundário, à saída), mas a sua evolução ou
regressão no intervalo de tempo compreendido entre a entrada e saída da Escola em
causa.
Mais valia = situação à saída –
situação à entrada.
Tudo o resto, é treta (mais uma vez).
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