outubro 20, 2011

Orçamento de Estado 2012 – melhorias possíveis (II)

Foi decidido efectuar um corte substancial na despesa do EstadoComo é evidente – devido ao facto de serem as despesas com pessoal as mais relevantes de entre todas – quem acabou “cortado” foram os funcionários públicos.

Perante duas alternativas (despedir ou reduzir remunerações) o Governo escolheu: eliminou (diz que provisoriamente) os dois subsídios (de férias e natal) ou seja, dois dos 14 vencimentos que se atribuíam.

Desta forma, 2/14 das despesas com pessoal saíram das responsabilidades orçamentais públicas. Daí – também – o maior impacto na Educação onde quase 90% das despesas são com pessoal. Aí, desde logo, são assegurados cortes de 12,5% (14,2% de 90%) da despesa global, apenas com esta decisão. Se juntarmos outras medidas, tais como a redução da contratação (menos alunos, menos turmas, menos horas curriculares, não reposição de funcionários reformados) e a reorganização de agrupamentos escolares e de serviços da administração central e regional, logo chegaremos aos valores de corte orçamental que se verificam no OE 2012, na ordem dos quase 20%...
Muito para além do corte definido com a trioka.

A decisão governamental foi esta. Certa ou errada, seguiu-se por aqui. Por outras vias, já seguimos, noutros anos, sem sucesso.

Mas, resta um problema.
Que foi tocado por Cavaco Silva. Porque apenas os funcionários públicos?

Porque a dívida do Estado é um problema do Estado pelo que devem pagar por ele quem o compõe … dizem muitos.

Mas não é tanto assim. Afinal o Estado trabalha para todos os contribuintes, prestando serviços universais. O défice do Estado prende-se no excesso de serviços que assegura e não tanto pelo que pagará (a mais?) por eles, a quem os produz.

O Estado devia prestar menos serviços e, por isso, em consequência, dispensar funcionários (os que passariam a ser desnecessários).

Isso traria desemprego e o problema de ter de despedir. O Governo foi por outra via.
Manteve todos os serviços prestados e cortou o valor pago pelo trabalho de quem os presta, ou seja, dos funcionários públicos. Assim, manteve o emprego público sem prejuízo da redução das suas despesas.

Dando de barato que a decisão é a correcta, faltou apenas a compensação: a redução, mesmo que parcial, do tempo de trabalho desses mesmos funcionários públicos. Cortados 2/14 da remuneração, podia bem o Governo ter decidido uma redução (seria sempre parcial face ao desconto dos rendimentos auferidos) de 1/14 do tempo de trabalho (meia hora por dia). O que não traria quaisquer custos orçamentais.

Nas (novas) seis horas e meia de trabalho diário, face à não admissão de pessoal, os actuais funcionários teriam que fazer o mesmo que antes, em sete horas, garantindo os mesmos serviços públicos. O aumento da produtividade individual objectivado mantinha-se ou subia (fazer o mesmo em menos tempo).

Esta compensação - provisória, enquanto durasse a suspensão dos subsídios - seria implementada através de uma simples tolerância de meia hora na entrada, saída ou hora de almoço, por acordo com a direcção dos serviços. Não se aplicaria nos casos em que o funcionário já usufrui de benefícios nesta área (estudante trabalhador, horário contínuo, aleitamento e outros). As horas extra, se existentes, só se contariam a partir das 7 horas não se contando com esta tolerância para o efeito. As horas curriculares (docentes) não seriam “mexidas” mas tão só as referentes a tarefas sem contacto com os alunos.

Uma decisão deste tipo permitiria uma aceitação mais fácil da medida pelos funcionários (fortemente) atingidos, esvaziaria muita contestação sindical e agitação de rua e se a medida sugerida para o sector privado fosse também tomada (flexibilização da unidade diária de trabalho até às 6 horas), aproximava uns dos outros, acalmando Cavaco Silva…

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