É evidente a “encomenda” do artigo. Nota-se a "mão" interessada de algumas corporações...
Apesar do sector ter margem de intervenção (e correcção), as razões que Vital Moreira apresenta estão (quase) todas erradas.
1)As tão referidas “margens de lucro” não o são. São margens comerciais. Ou seja, a diferença entre o preço de compra e o preço de venda.
Consideremos uma farmácia com um volume de vendas de 24 mil euros. Se a margem de comercialização for 20%, terá adquirido os medicamentos a 20 mil euros. A sua margem comercial será de 4 mil euros.
Saliente-se que um farmacêutico tem que estar sempre presente. Como os horários de abertura vão muito para além das 35 horas semanais, são necessários dois farmacêuticos (o responsável e um outro) a não ser que Vital Moreira entenda que estes profissionais têm de ser “escravos” do seu negócio…
Agora, consideremos os custos do espaço (investimento, aluguer, limpeza e energia). Os custos do pessoal. O valor dos impostos. O custo financeiro pago à ANF por via da antecipação de receitas (necessário face aos atrasos dos pagamentos públicos).
Restará que lucro?
2)Agora, vamos considerar que aquela mesma farmácia é a única numa qualquer aldeia. E que, como gostaria Vital Moreira, não havia restrição à abertura de uma outra ou quaisquer outras farmácias na zona.
O volume de vendas dividia-se por dois (ou mais). A margem de comercialização também…
Se os 4 mil euros já eram receita “curta” para uma farmácia, como ficariam (agora) as duas farmácias? Com 2 mil euros cada? Claro que teriam que vender muito mais chinelos, cremes e protectores solares; eliminar noites, prevenções e quaisquer alargamentos de horários. E, mesmo assim, uma das farmácias acabaria por fechar. Que seria a mais frágil, a primeira a “partir”. E tudo voltaria ao mesmo: pois apenas uma farmácia é viável.
Mas, voltaria mesmo, ao mesmo?
3)Claro que a segunda e nova farmácia será, provavelmente, de uma multinacional. Que se apresentará no mercado e, pelo poder financeiro que terá, poderá “aguentar” fianceiramente que a outra quebre primeiro… Depois ficará só. Naquele local, e em todos os locais.
Ora, Vital Moreira prefere umas poucas multinacionais a gerir as farmácias portuguesas do que milhares de farmacêuticos, no panorama actual.
Pelo que nada fica na mesma. Não é Dr. Vital Moreira?
4)Finalmente, as farmácias não são como as consultas médicas nem como as análises clínicas.
E sabe qual a diferença?
Nas farmácias dispensam-se medicamentos. Produtos que actuam e influem directamente sobre o doente. O que não acontece nos outros casos. Nesses poderá haver negligência, mas mesmo aí, só terá influência sobre os doentes de forma indirecta.
5)Apesar de ser-lhes (directamente) prejudicial, são as farmácias que têm lutado mais pela prevalência e crescimento do uso dos genéricos. Apesar de poder haver outros interesses (ANF) nesse processo, temos que lhes dar esse crédito.
Daí que, Dr. Vital Moreira, tente ser um pouco mais profundo nas suas análises aproveitando para integrar estes (e outros) factores.
Tudo isto sem prejuízo de ser (realmente) necessário alguma adaptação da regulamentação, diferenciando o tratamento fiscal (e não só) entre uma farmácia com muito alta facturação (zonas urbanas junto a equipamentos de saúde onde se prescreve) e outras, pequenas e deslocalizadas, em todo o país, que fazem muito serviço público à conta de muito esforço dos seus proprietários…
São estes que estão a aguentar toda a rebendita socialista contra a sua alegada posição privilegiada.
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