Será que é difícil de entender que já nada é como era?
Que o Mundo mudou com a globalização e que o vento já não sopra de feição para os países desenvolvidos?
Que, por isso, já não basta deixar tudo como está? Que é preciso – mesmo – mudar?
Que os pressupostos de ontem já não se aplicam hoje?
Que as soluções usuais já não funcionam?
Não sei se temos futuro. Para já, as coisas não se afiguram nesse sentido...
Desde o final do século passado que as economias desenvolvidas estão em recessão real o que se comprova através da constatação de que o custo do respectivo crescimento é superior ao benefício obtido. Afinal, não se podem contar como "crescimento" evoluções do PIB na ordem dos 2% quando os défices que sustentam esse crescimento anémico, ascendem a valores três e quatro vezes maiores...
E a explicação é simples: para que muitos chineses possam ser um pouco menos pobres, a população dos países desenvolvidos terá de ficar um pouco menos rica. O Planeta não estica e as fontes usuais de energia (fóssil) estão também em queda. Estão menos disponíveis, têm maior procura - nos países em desenvolvimento - e são mais caras.
Será que o modelo de governo (democracia) usual nos países desenvolvidos, baseado na legitimação eleitoral, conseguirá produzir dirigentes capazes de dizer que:
Tudo aponta para uma realidade incontornável: não vamos mais crescer. Vamos agora trabalhar sem essa ilusão, para implementar políticas sustentadas que nos permitam viver ao nível do que produzimos, tentando evitar roturas sociais, deixando de olhar para a recessão económica como para um “bicho de sete cabeças”, e aceitando-a como o resultado de uma nova ordem mundial de distribuição de riqueza.
Será que haverá um economista que não aponte o crescimento como a saída (única) do actual problema das economias desenvolvidas? E se, simplesmente, esse crescimento não vier… nunca?
Que resultado podem ter políticas financeiras expansionistas (menores juros, mais dinheiro, mais consumo) numa sociedade (estados, empresas e particulares) que vive, estruturalmente, em défice? Que acumula dívida? O que podem esses países ganhar com isso? Nada. Talvez as multinacionais possam tirar benefícios dessas políticas. E, mesmo assim, benefícios a curto prazo apenas...
O que esperar dos mercados financeiros quando o dinheiro começa a escassear?
É difícil entender que poderá não haver crescimento suficiente nos países produtores e excedentários (agora os países em desenvolvimento) para acomodar os défices e dívida que crescem sucessivamente nos países desenvolvidos?
E que essa escassez de dinheiro, simplesmente, provoca a subida – normal – do custo desse bem?
Não nos podemos esquecer que há 2 semanas atrás, numa decisão única, a maior economia mundial colocou “nos mercados” uma necessidade de mais de 2,1 milhões de milhões de dólares. Haverá oferta e disponibilidade financeira para esta nova necessidade? Que se junta à renovação de toda a - enorme - dívida anterior? Havendo ou não, sempre soubemos que o crescimento da procura origina maiores custos…
E não há que diabolizar ou culpar os mercados financeiros por essa situação. Afinal, ajustam-se, simplesmente, à mesma.
Entretanto, a esquerda, recém-desalojada do poder na maioria dos países, passou a ser uma força conservadora. De bloqueio à mudança. Um travão a todas as medidas que contrariem (pois, as agora necessárias, são quase todas em sentido contrário) aquelas que tomou nos últimos anos – em que esteve no poder - e que levaram os países desenvolvidos para o estado actual. Pois essa esquerda sempre soube (ser cigarra) como distribuir sem fazer a mínima ideia como produzir (ser formiga).
Nem soube (o que é mais grave), manter a produção e riqueza que encontrou quando assumiu as rédeas do poder.
É preciso mudar. E a mudança será totalmente inédita e feita sobre premissas desconhecidas. Mas a direcção para onde teremos que ir é clara. Daí que não há que hesitar à espera de estudos e avaliações. E de temores da recessão.
São medidas recessivas? Pois são. Disso não escapamos. Afinal a economia e finanças de um país, nestas circunstâncias (não há espaço para engenharias financeiras – que são artimanhas que se pagam – sempre – mais tarde) são como a economia e as finanças de uma família: só podemos gastar aquilo que ganhamos a partir do que produzimos.
Assim, nestes países, a realidade (e o nível de vida possível) está um pouco mais abaixo daquilo a que nos habituamos nos últimos anos… E, se a essa queda se juntar a outra (para pagar o que pedimos emprestado nesses anos de ilusão de vacas gordas) entenderemos bem que são necessárias medidas, que é necessária mudança e que teremos que mudar - mesmo - de vida. E que a recessão é apenas o ajuste a essa nova realidade.
Mais uma vez: crescimento? Esqueçam…
Quando veremos um economista (com capacidade de decisão) a realizar esta evidência?
E a agir em conformidade...
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