Os Títulos do Tesouro (pelo menos nos países mal comportados) estão em desuso. Os governos perderam a confiança da sua população e, mesmo quando – eleitoralmente - substituídos, durante algum tempo, o descrédito mantém-se sobre esses instrumentos de poupança / aplicação de recursos financeiros disponíveis.
Os Eurobonds puros (inexistentes) não são aceites pelos países bem comportados. Estes não se resignam a pagar pela falta de “crédito” (de todo o tipo) dos restantes. Até porque, dizem, o processo poderia introduzir a noção do facilitismo, reduzindo a pressão que obriga às mudanças necessárias nesses países mal comportados.
Entretanto, apesar de muito mal tratada, ainda resta alguma poupança.
Também nos países mal comportados.
O que fazer com essa poupança?
Todo o investimento (o tal que nos garante o crescimento e o emprego) tem por base essa poupança. Ou, quando esta não existe, ou não é suficiente para os gastos necessários, recorre-se aos mercados financeiros. Sim, os tais mauzões que nos têm feito a vida negra...
Infelizmente, nos dias de hoje, o crescimento já não pode vir do consumo. Porque este já está, há muito tempo, demasiado externalizado (consome-se o que é importado) constituindo-se, nos países desenvolvidos, como o motor dos défices…
De todos os défices. Logo, das dívidas.
O crescimento (se vier a acontecer) terá de ter origem na produção. Mas naquela que se revele concorrencial nos mercados globais e no mercado interno (e não numa qualquer maior produção de bens e serviços que ninguém quer comprar). E essa produção deverá ser potenciada pelo investimento que, por sua vez, será suportado pela poupança, a elevar à condição que merece. A motivar e valorizar, tratada a água benta…
Pois a opção actual é simples: os excedentes ou se canalizam para o consumo ou para a poupança (não se está aqui a avaliar a – cada vez – menor capacidade de ter excedentes). Se é direccionada para o consumo já vimos que as consequências serão provavelmente e na maior parte das situações, negativas. Precisamos de poupança mesmo. Mas, tendo-a, onde aplica-la?
Hoje temos duas possibilidades: coloca-la no País ou fora do País.
No País, podemos ficar mal: na dívida pública? É “lixo”. Nos bancos? Compram dívida pública pelo que serão também lixo.
Aplicando-a fora do País ou em aplicações-refúgio (ouro) ganhamos segurança mas temos um efeito negativo: essa (nossa) poupança estará a dinamizar os investimentos de outros países, potenciando o respectivo (e não o nosso) crescimento.
Assim, precisamos de um modelo intermédio onde aplicar a nossa poupança.
Títulos do Tesouro não servem, pois os nossos governos tratam de os desbaratar ao ponto de os transformar em lixo.
Títulos Alemães e Suíços (e outros como eles) também não, pois, apesar de seguros (para já…) apenas potenciarão os investimentos e o crescimento nesses países.
Eurobonds. São recusados. Já vimos e entendemos porquê. Pelo menos numa fase em que o rigor orçamental não está imposto e, muito menos, garantido. Aí, a Alemanha (e outros países bem comportados) terão razão. Não estão para solidariedades que só interessam e só são lembradas pelos países que se portaram mal, quando as coisas apertam, para o seu lado…
Então, porque não os Eurobonds dot <país>?
Eurobonds.pt, Eurobonds.it, Eurobonds.es ...
Que seriam emissões do BCE (ou do FEEF, ou de uma outra nova qualquer instância) de títulos seguros, garantidos mas cujos recursos ficariam consignados a cada país, mas com uma aplicação condicionada. Não são utilizados à “tripa forra” pelos respectivos governos. Os fundos obtidos seriam aplicados de forma condicionada, regulada e monitorizada por entidades credíveis que asseguram e garantem o investimento em questão. Poderão ser um dos mais importantes instrumentos do já aventado Governo Económico Europeu. Porque não?
Estes instrumentos permitiriam manter os recursos financeiros oriundos dos países com problemas, nos mesmos, eliminando a actual sangria em direcção a países, títulos e fundos refúgio. Onde ficam longe dos riscos fiscais (ou confiscos) e de bancarrotas.
A Alemanha, apesar de poder perder algum benefícios (menos aceitáveis) que resultam dessa afluência de recursos financeiros externos (pois é um país refúgio) entenderá que só assim o Euro se salvará. E que esta será a solidariedade que terá de concretizar, até porque é feita sem custos para os seus contribuintes.
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