outubro 29, 2013

Os nossos problemas

O problema Português dos dias de hoje prende-se, em grande parte, com a falta de expectativas de futuro. No referente ao estado social, ao emprego e a um futuro sustentado demograficamente.

É necessário um estado social, mas sustentável.
É necessário trabalho, que deve ser bem dividido de forma a impedir níveis anormais do desemprego e a emigração dos jovens.
São necessárias condições de vida que potêncializem a ocorrência de mais nascimentos e a renovação de gerações.

A verdade é que fomos iludidos e continuamos iludidos com os níveis de vida que atingimos nos últimos 15 anos. Criamos uma expectativa tal, que mina todas as tentativas de correção e ajuste necessárias. A ideia que vivemos uma crise (a ultrapassar) e não um período de ajuste (em baixa) terá de ser invertida. E eliminar o pressuposto que aí virá crescimento e que os bons velhos tempos - em que viviamos de empréstimos exteriores - poderão voltar, ultrapassado este (hipotético) momento menos bom.

Nada disso se vai passar. 
Vamos cair bem baixo e voltar a níveis dos anos oitenta, sem apelo nem agravo. E isto porque temos que ajustar para os níveis sustentados pelo que produzimos e cair ainda mais um pouco para podermos pagar os tais anos de ilusionismo que vivemos.

A ideia que os menos ricos não usufruiram desses anos de “vacas gordas” é uma ideia errada. Fez-se muita obra utilizada por todos. O Estado Social oferecido por Guterres e Sócrates (e outros que por lá passaram de raspão) custou dinheiro (défices orçamentais), que foi emprestado por alguém que, agora, pede de volta. Nos últimos anos, Sócrates gastava mais 20% (10% do PIB) do que conseguia receber dos impostos e taxas cobrados. Ou seja, oferecia ali para “alguém” pagar depois.

E isto é facil de entender...

Este governo está a tentar retirar o País do buraco assim criado. E, reconheçamos, está a tentar e a falhar, numa parte substancial. E a errar também.

Mas é a diferença entre ser responsavel por uma situação e ser incompetente para resolve-la. É a diferença entre o ladrão e polícia que não o consegue apanhar...
Um é responsável, o outro (apenas) incompetente.
Resta a questão: será que o problema é tão grave que não há solução para o mesmo? Talvez... E aí, deixará de ser uma situação de incompetência, passando-se a uma situação de impotência...

Neste momento ataca-se a troika. Ora, a troika é a única entidade que ainda nos vai emprestando o dinheiro que não temos (para pagar o serviço dos empréstimos anteriores e ainda o défice que mantemos) impondo, para isso, algumas condições (duras). Nada mais natural, como faria qualquer um de nós para emprestar dinheiro a outrém.

O problema é que à esquerda, as soluções são mais do mesmo.
À direita, nada...
A hipotética direita que os resta está no Governo a (tentar) cumprir um memorando socialista, tentando resolver um problema socialista. E esgota-se nisso. É a formiga que nem terá tempo para repor os gastos da cigarra anterior. E a cigarra seguinte, desta vez, chegará ao inverno sem as provisões amealhadas pela formiga. Que não teve tempo para isso. Ou seja, será o fim.

Pelo que o ideal seria que este Governo mantivesse as suas políticas de rigor e ajustamento (é que não há alternativa) mas que tomasse em consideração as situações relevantes na área do emprego e do trabalho onde está a seguir uma direção inversa à necessária. 

E que, para isso, tomasse as medidas certas respeitantes à dívida e ao défice.

4 comentários:

Diogo disse...

Diogo – Talvez a situação seja um pouco mais macabra e deliberada do que você imagina. Ouçamos três opiniões:

Fernando Madrinha - Jornal Expresso de 1/9/2007:

[...] "Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais." [...]


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Este texto do professor universitário, Paulo Morais, - Correio da Manhã – 19/6/2012, dispensa comentários:

[...] "Estas situações de favorecimento ao sector financeiro só são possíveis porque os banqueiros dominam a vida política em Portugal. É da banca privada que saem muitos dos destacados políticos, ministros e deputados. E é também nos bancos que se asilam muitos ex-políticos." [...]

[...] "Com estas artimanhas, os banqueiros dominam a vida política, garantem cumplicidade de governos, neutralizam a regulação. Têm o caminho livre para sugar os parcos recursos que restam. Já não são banqueiros, parecem gangsters, ou seja, banksters."

[...]

Os aumentos de impostos que nos martirizam e destroem a economia têm como maiores beneficiários os agiotas que contrataram empréstimos com o estado português. Todos os anos, quase dez por cento do orçamento, mais de sete mil milhões de euros, destina-se a pagar juros de dívida pública.

Ainda no tempo de Sócrates, e para alimentar as suas megalomanias, o estado financiava-se a taxas usurárias de seis e sete por cento. A banca nacional e internacional beneficiava desse mecanismo perverso que consistia em os bancos se financiarem junto do Banco Central Europeu (BCE) a um ou dois por cento para depois emprestarem ao estado português a seis.

Foi este sistema que levou as finanças à bancarrota e obrigou à intervenção externa, com assinatura do acordo com a troika, composta pelo BCE, FMI e União Europeia. [...] Mas o que o estado então assinou foi um verdadeiro contrato de vassalagem que apenas garantia austeridade. Assim, assegurou-se a continuidade dos negócios agiotas com a dívida, à custa de cortes na saúde, na educação e nos apoios sociais.

[...] A chegada de Passos Coelho ao poder não rompeu com esse paradigma. Nem por sombras. O governo optou por nem sequer renegociar os empréstimos agiotas anteriormente contratados; e continua a negociar nova dívida a juros incomportáveis.

Os políticos fizeram juras de amor aos bancos, mas os juros pagámo-los nós bem caro, pela via dum orçamento de estado que está, primordialmente, ao serviço dos verdadeiros senhores feudais da atualidade, os banqueiros."


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E até mesmo o Miguel Sousa Tavares - Expresso 07/01/2006:

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos [Ota e o TGV], não apenas os diretamente interessados - os empresários de obras públicas, os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos - mas também flutuantes figuras representativas dos principais escritórios da advocacia de negócios de Lisboa. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. E o grande dinheiro agradece e aproveita.»

Gonçalo disse...

Sim. De acordo. Mas a verdade é que esses tempos já passaram (e os ganhos lá se foram). Os bancos hoje, lutam por não falirem e por cobrir buracos e prejuizos.
É preciso ir atrás de quem roubou e deixou roubar e tratar de criar mecanismos de regulação eficazes para o futuro.
Infelizmente, para já, é necessário repor alguma saúde no sistema bancário. É que precisamos dele.
Sem prejuizo, reforço, de se ir atrás de quem esburacou os bancos: deviam ser apuradas todas as imparidades absorvidas por todos os bancos que tenham tido acesso a fundos públicos - nos últimos 15 anos. E identificar o destino do dinheiro dado como imparidade. Porque se antes esse dinheiro era descontado dos lucros, hoje, está a ser suportado por fundos públicos.

Diogo disse...

Caro Gonçalo,

«Os bancos hoje, lutam por não falirem e por cobrir buracos e prejuízos»

Que sabemos nós das contabilidades dos bancos? Como podemos saber se têm lucros ou prejuízos? Existe alguma regulação digna de crédito?

Lembra-se do BPN, que apresentava lucros sólidos e que, de um dia para o outro, apresentava 4 mil milhões de prejuízos (que os nossos governantes se apressaram a pagar com os nossos impostos). Eles tiveram prejuízos onde? Alguém sabe isso? Ou o dinheiro, pura e simplesmente, desapareceu? Ou está num banco compincha?


O que está muito mal explicado é porque é que o Banco Central Europeu (BCE) empresta dinheiro (que cria a partir do nada – out of thin air) a juros irrisórios aos bancos (a cerca de 1% ou menos), e está proibido pelos próprios estatutos de emprestar directamente aos Estados, Empresas e Famílias.


Diário Económico – 21.12.2011:

«…Numa operação sem precedentes, o BCE vai emprestar 489 mil milhões de euros a 3 anos, bem acima do previsto, com um juro de 1%.»


Depois estes bancos emprestam diligentemente este dinheiro aos Estados Nacionais a juros de 5%, 6%, 7% e mais.

Por exemplo:

Um banco pede um empréstimo de 100 mil milhões de euros ao BCE a um juro de 1%, e depois empresta-o a um Estado a uma taxa de 6%. Este banco arrecada, num único ano, 5 mil milhões de euros. Convenhamos que é um óptimo negócio!

Estes «negócios das arábias» dão azo a que os programas de «ajustamento» e «cautelares» se sucedam eternamente, com a população a ser despachada para a miséria, a fome e a morte.

Agora, caro Gonçalo, haverá roubo maior no universo?

Diogo disse...

Caro Gonçalo, aconselho-o vivamente a ver este documentário. Garanto-lhe que a sua perspectiva do mundo financeiro vai mudar por completo (tal como me aconteceu a mim).

O Dinheiro Como Dívida - Money as debt (português) - YouTube