A Alemanha financia-se a 0%.
Na realidade, obteve 4,6 mil milhões de euros a uma taxa de 0,07%.
Esta situação explica muito.
Explica porque não quer, a Alemanha, os Eurobonds. Aí, as
suas taxas de financiamento fariam a média com as dos Países periféricos. Não com os países endividados, nem com os países sem
crescimento no futuro. Pois, nesse barco está, também, a Alemanha. Embora tenha viagem marcada apenas para a viagem seguinte…
Explica também o erro de apreciação dos “contribuintes
alemães” que acham estar a financiar os países em dificuldades. Errado. São os
recursos destes países que, não encontrando ambientes e aplicações seguras no
seu território (desde os títulos de dívida, escaqueirados pela situação da
Grécia, até aos depósitos bancários, cada vez mais em risco - veja-se a situação em Espanha) que estão a financiar a Alemanha. É exatamente ao contrário.
Seguindo o percurso do dinheiro, quando a Alemanha financia
a dívida da Grécia, acaba por ser o dinheiro grego, inseguro, que foge dos
bancos gregos e que vem para a Alemanha a 0%. E que volta à Grécia, nas mãos da
troika e forçando a austeridade, a 5%, 6% ou mais ...
A verdade é que se há investidores institucionais que
colocam disponibilidades a 0%, na Alemanha, que mensagens passam esses
entendidos à população?
É simples: tirem o dinheiro dos bancos e coloquem-no no …
colchão.
Não há qualquer saída no processo em espiral em que vivem os países desenvolvidos. A globalização tratou de colocar o crescimento junto à
produção. A riqueza onde está o trabalho. E para lá flui o capital, o know-how e o poder.
Entretanto, continuamos a ouvir as vouvuzelas do socialismo
da terceira via a zurzirem sobre a situação. Após dezenas de anos de poder, nos
países desenvolvidos, aumentaram os níveis de vida das suas populações,
nomeadamente edificando estados sociais rígidos e benevolentes. Infelizmente, tudo isso foi feito
acima da capacidade produtiva, à custa de défices sucessivos e a crédito.
Ao fim de todos esses anos, chegamos à situação atual.
Níveis de vida muito bons (alguns, hoje, vão dizendo que
antes eram ricos e não sabiam) insustentáveis e fuga sucessiva (deslocalização)
do trabalho. Menos trabalho, mais desemprego e um peso cada vez maior sobre o
edifício social montado pelo socialismo da terceira via. Menos economia, recessão, baixa dos níveis de vida. O que não é o caminho errado. Pois precisamos
de ajustar, em baixa, de forma realista.
Mas, entretanto, a democracia fica em cheque.
E é isso que Mário Soares deveria ter em conta ao zurzir sobre a troika.
Porque nenhum partido ganha eleições a prometer austeridade.
Mas a democracia permite que ganhem os populistas. Os que prometem (de forma insustentável) uma melhor
vida para os eleitores ou, no mínimo, a manutenção dos níveis atuais.
Todos queremos crescimento. Mas o crescimento é impossível.
Não vai acontecer nunca… (pelo menos enquanto não cairmos muito mesmo).
Daí ser fundamental que venha a troika e que seja ela a
impor o que é difícil de fazer. E permitindo que os eleitos possam dizer que
discordam, que queriam outra coisa, mas que não têm solução face à situação em
que nos encontramos, levados pela ideologias e processos socialistas de
terceira via.
O maior perigo será dar lugar a novos “Marios Soares” e a outros que
com os seus socialismos e/ou populismos. Aí, teremos o caldo entornado.
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