A China tem um enorme saldo comercial com os países
desenvolvidos.
As populações destes últimos, usufruem de
produtos a preços inimagináveis caso fossem produzidos entre portas. Na prática,
acedem a bens e serviços muito baratos, porque produzidos por trabalhadores
que, do seu ponto de vista (segurança social, rendimentos) seriam pouco menos
que escravos.
Neste processo, o trabalho esvai-se dos países desenvolvidos,
deslocalizando-se para … a China. E, dessa forma, a riqueza também. A
manutenção dos níveis de vida nos países desenvolvidos começa a ficar em causa.
Aí, os governos democraticamente eleitos cumprem o seu mandato: a todo o custo,
procuram manter esses níveis de vida.
Sem produção de riqueza suficiente (em queda)
aparecem os défices e as dívidas.
Inicialmente sustentadas pelos mercados
financeiros ou seja, pelo dinheiro disponível, a partir de onde ele é
excedente. Chegamos, outra vez aos pacientes chineses…
Sem capacidade de agir (as democracias não lidam bem com medidas de contenção) o problema cresce. Mais défices e mais dívida.
Aí o chinês, calma e pacientemente, começa a
tirar o tapete. Por conveniência (porque já emprestou muito e não quer ver
perdido o investimento). Mas também para iniciar a fase seguinte da sua acção.
E faz isto devagarinho para não criar roturas
que, também para ele, seriam más.
A meio caminho, desesperadas, as sociedades
desenvolvidas recorrem à última solução.
Emitem dívida (nos EUA, no Verão, mais 2 milhões de milhões de dólares) e/ou criam moeda.
É ver a correria do FED e do BCE (0,5 milhões de milhões na semana passada) a disponibilizarem
liquidez à banca (e à economia em desfalecimento)…
Claro que haverá uns sinais positivos de curtíssimo prazo. Por exemplo, com toda essa nova liquidez disponibilizada a 1%, os leilões de dívida pública serão um sucesso, com colocações a 3%, 5% ou 7%... Mas na realidade, apenas se estará a criar mais dívida e a levar o problema para o futuro.
Também se assistirá a algum crescimento (anémico) no PIB aqui ou ali (1 ou 2 pontos do PIB, face ao custo, traduzido em défices de 5, 8 ou 10 pontos do PIB) e no emprego.
Infelizmente, esses lampejos positivos logo serão abafados pelas consequências da solução. Que não resolve nada. Apenas adia a rotura. Mas esta, por ser proporcional à dívida e esta estar a crescer, acabará por ser bem maior e mais violenta…
Nada que não sirva à China.
É que serve mesmo.
Até essa moeda, criada dessa forma, vale na mesma, na
aquisição de dívida, de ouro, petróleo e tudo mais.
Mas, qual outra face da mesma moeda, o dólar e o
euro começam a perder valor. A inflação não perdoa e tudo o que perde valor
acaba por ser vendido quanto antes. E o que se vende muito perde ainda mais
valor. Porque tudo se ajusta e tende para o equilíbrio.
E mesmo este dinheiro, assim produzido, sem
sustentabilidade económica, quando lhe chega, ao chinês, em troca das suas
exportações, serve-lhe bem para o que pretende. Com ele, podem continuar a
alimentar as dívidas dos países desenvolvidos mas, a partir de determinado
momento de uma forma devidamente controlada.
Aí, devagarinho, começa a tirar o tapete,
destapa a dívida e seca a liquidez. E cria a crise desencadeando a austeridade.
Nessa altura, aparecerão todos, sorridentes, para
resolver o problema, comprando a EDP, depois a Siemens e, finalmente, a General
Motors. Duvidam?
E, qualquer ideia de "resistência" nacionalista na defesa dos sectores e empresas "estruturantes" cairá por terra, quando os credores simplesmente acenarem com a possibilidade de retirarem o tapete (o investimento em dívida) que sustenta tudo. Pelo menos, enquanto os défices se mantiverem.
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