dezembro 29, 2011

EDP: Paciência de chinês


A China tem um enorme saldo comercial com os países desenvolvidos.

As populações destes últimos, usufruem de produtos a preços inimagináveis caso fossem produzidos entre portas. Na prática, acedem a bens e serviços muito baratos, porque produzidos por trabalhadores que, do seu ponto de vista (segurança social, rendimentos) seriam pouco menos que escravos.

Neste processo, o trabalho esvai-se dos países desenvolvidos, deslocalizando-se para … a China. E, dessa forma, a riqueza também. A manutenção dos níveis de vida nos países desenvolvidos começa a ficar em causa. Aí, os governos democraticamente eleitos cumprem o seu mandato: a todo o custo, procuram manter esses níveis de vida.

Sem produção de riqueza suficiente (em queda) aparecem os défices e as dívidas.
Inicialmente sustentadas pelos mercados financeiros ou seja, pelo dinheiro disponível, a partir de onde ele é excedente. Chegamos, outra vez aos pacientes chineses…

Sem capacidade de agir (as democracias não lidam bem com medidas de contenção) o problema cresce. Mais défices e mais dívida.

Aí o chinês, calma e pacientemente, começa a tirar o tapete. Por conveniência (porque já emprestou muito e não quer ver perdido o investimento). Mas também para iniciar a fase seguinte da sua acção.

E faz isto devagarinho para não criar roturas que, também para ele, seriam más.

A meio caminho, desesperadas, as sociedades desenvolvidas recorrem à última solução.
Emitem dívida (nos EUA, no Verão, mais 2 milhões de milhões de dólares) e/ou criam moeda.

É ver a correria do FED e do BCE (0,5 milhões de milhões na semana passada) a disponibilizarem liquidez à banca (e à economia em desfalecimento)…

Claro que haverá uns sinais positivos de curtíssimo prazo. Por exemplo, com toda essa nova liquidez disponibilizada a 1%, os leilões de dívida pública serão um sucesso, com colocações a 3%, 5% ou 7%... Mas na realidade, apenas se estará a criar mais dívida e a levar o problema para o futuro.

Também se assistirá a algum crescimento (anémico) no PIB aqui ou ali (1 ou 2 pontos do PIB, face ao custo, traduzido em défices de 5, 8 ou 10 pontos do PIB) e no emprego. 

Infelizmente, esses lampejos positivos logo serão abafados pelas consequências da solução. Que não resolve nada. Apenas adia a rotura. Mas esta, por ser proporcional à dívida e esta estar a crescer, acabará por ser bem maior e mais violenta…

Nada que não sirva à China. 
É que serve mesmo.
Até essa moeda, criada dessa forma, vale na mesma, na aquisição de dívida, de ouro, petróleo e tudo mais.

Mas, qual outra face da mesma moeda, o dólar e o euro começam a perder valor. A inflação não perdoa e tudo o que perde valor acaba por ser vendido quanto antes. E o que se vende muito perde ainda mais valor. Porque tudo se ajusta e tende para o equilíbrio.

E mesmo este dinheiro, assim produzido, sem sustentabilidade económica, quando lhe chega, ao chinês, em troca das suas exportações, serve-lhe bem para o que pretende. Com ele, podem continuar a alimentar as dívidas dos países desenvolvidos mas, a partir de determinado momento de uma forma devidamente controlada.

Aí, devagarinho, começa a tirar o tapete, destapa a dívida e seca a liquidez. E cria a crise desencadeando a austeridade.

Nessa altura, aparecerão todos, sorridentes, para resolver o problema, comprando a EDP, depois a Siemens e, finalmente, a General Motors. Duvidam?

E, qualquer ideia de "resistência" nacionalista na defesa dos sectores e empresas "estruturantes" cairá por terra, quando os credores simplesmente acenarem com a possibilidade de retirarem o tapete (o investimento em dívida) que sustenta tudo. Pelo menos, enquanto os défices se mantiverem.

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