outubro 16, 2011

Orçamento 2012 Quem ganhará com mais meia-hora de trabalho no sector privado?

Não se entende o objectivo desta medida.
Por muitas voltas que se dêem, não se chega lá. 
Não entendemos o acréscimo de meia-hora nos horários dos trabalhadores do sector privado.

Para procurar perceber, vamos fazer o exercício ao contrário. 
Procurando os comentários positivos e seguir a pista da concordância com a decisão, para poderemos perceber que lobbies estão satisfeitos e assim, perceber o (verdadeiro) alcance da medida.

E assim, concluímos: 
Estão satisfeitos os industriais e empregadores em massa
O que só nos pode preocupar.

A verdade é que, se há mais para produzir (com venda garantida) o mais simples era e é … empregar.

Mas não. Aumenta-se o tempo de trabalho de cada um, em meia-hora diária, com vista a se produzir mais. Mas, a produzir mais como? Que empresas estarão nos limites produtivos máximos, a laborar a todo o ritmo e com vendas garantidas de tudo o que produzem?

Esta é uma medida muito gravosa para o emprego. Pois potencia a sua redução nuns casos (aumento do desemprego)  ou, no mínimo, criará condições para o não emprego (noutros casos) quando aumenta a produção. Com esta medida, cria-se uma “folga” de 7% para o crescimento de produção sem efeitos de criação de novo emprego. Como se essa situação, à partida, não estivesse já tão difícil.

O que acontecerá nas grandes superfícies e lojas? Despedimentos de 7% do pessoal (1 em cada 14). E imediato. Primeiro, não se renovando contratos e eliminando as prestações de "recibos verdes". Depois, despedindo. 

Afinal, despedir já se tornou mais barato e os 7% de folga, a ganhar com os trabalhadores que vão ficar, permite custear as possíveis indemnizações dos despedidos. 

Na defesa desta decisão é triste a confusão entre o acréscimo de produtividade pessoal (o que é possível obter com esta medida em determinadas situações) com mais produção nacional, que não se atinge. Afinal, neste caso, uns (os que ficarão empregados) aumentam a sua produtividade, em troca com outros que deixam de produzir e engrossam a fila dos desempregados, suportados pela segurança social (que acaba por pagar mais do que a empresa que os despede pode vir a ganhar).

Pelo que esta decisão configura um "jeito" qualquer ...
O que é grave. Muito grave.

E como deveria ter sido?

A medida correcta, corresponderia a um choque de competitividade, que passaria pela decisão de implementar, provisoriamente, como sucedeu na Função Pública, a possibilidade de redução em 2/14 avos (ou 14%) do horário de trabalho no sector privado, com o correspondente corte remuneratório ao nível dos dois subsídios (Férias e Natal). 

Se essa redução - total -  obrigaria a um acordo entre empregador e empregado, metade da mesma poderia ser tomada unilateralmente pelo empregador (1/14 ou 7% do tempo de trabalho a menos e, em simultâneo, menos um dos subsídios a atribuir).

A Economia, assim, teria um choque de competitividade fantástico. As empresas desajustadas, no ciclo económico actual (depressivo), com pessoal a mais, ajustar-se-iam, sem necessidade de despedir. As empresas com pessoal a menos, a laborar nos máximos ou em crescimento ficariam como estão (é uma possibilidade) ou passariam a empregar. Desta forma, reduz-se o peso (dos desempregados) sobre o orçamento da Segurança Social (e de todos os contribuintes). 

Nota: caberia a cada empresa adoptar ou não esta nova possibilidade de actuar. Cada uma seria livre para se auto-avaliar e actuar em conformidade. Apenas se introduziria um grau de liberdade no tempo de trabalho de cada trabalhador, com o ajuste correspondente na sua remuneração.

Uma coisa é clara: não precisamos de trabalhar mais.
Precisamos de o dividir melhor (por mais pessoas, reduzindo o desemprego).
O choque de competitividade ganha-se com cedências dos trabalhadores que ganharão menos (mas trabalharão menos tempo, também).

Com esta opção, o que se perderia?

Pouco.
Poderão dizer que se reduz o IRS e a TSU (receitas públicas) pela redução de rendimentos dos que passariam a trabalhar menos tempo. Mas essa redução seria logo compensada pelo emprego criado (mais trabalhadores a ganhar, a pagar impostos e a descontar para a segurança social e com menos desempregados a suportar). Tudo isto sem custos acrescidos para os empregadores.

Por outro lado, com menos despesas de pessoal, o preço dos bens e serviços poderá reduzir. E, dessa forma, potenciar o crescimento das quotas dos produtos nacionais (pela redução do seu preço), tanto no mercado externo, como interno (concorrem também com produtos vindos do exterior) permitirá crescer, aumentando assim, também a possibilidade do governo obter mais IVA e TSU.

Para melhor se entender, em vez de 7 trabalhadores a trabalhar 40 horas:

Nas empresas em crescendo, passaríamos a ter 8 ou 9 trabalhadores a trabalhar 35 horas. 

Potencia-se o emprego e assim, reduz-se a despesa da Segurança Social.
Asseguram-se as mesmas ou mais receitas (IRS e TSU) para o Estado.
Os custos com o trabalho, para estas empresas, mantêm-se, mas, neste caso, como estão a crescer, a laborar e vender em pleno, não necessitam, aparentemente de choques a esse nível...

Nas empresas com problemas, muitas prestes a desempregar, manteriam 7 trabalhadores a trabalhar 35 horas.

Neste caso evita-se o desemprego de 1 trabalhador, ajustando o excesso de mão-de-obra da empresa, reduzindo proporcionalmente os respectivos custos fixos. A folga (redução dos custos fixos com o trabalho em 7%) poderá potenciar a redução do preço do produto, relançando a empresa no mercado. A redução de receitas de IRS e TSU para o Estado será uma realidade, mas bem melhor do que a que resultaria do desemprego que viria logo a curto prazo.

Aumento de meia-hora?
Não tem sentido nenhum…

As empresas com problemas não precisam de mais trabalho dos funcionários que têm (a mais). E a estrutura de custos não se alteraria (e é isso que necessitam para não ter - ainda - que despedir).

As empresas em crescimento, a laborar e a vender em pleno, têm sempre a alternativa de empregar caso mais trabalho possa resultar em mais produção e mais vendas. Mas a maioria das situações não são deste tipo. A maioria vende o que lhe compram e não o que produzem ou que poderiam produzir. Não estão no máximo da sua capacidade produtiva pelo que a meia hora só lhes trará uma opção de poderem despedir 7% do pessoal. Os trabalhadores que ficarem aumentarão a sua produtividade pessoal. É verdade. Mas a empresa produzirá o mesmo e o País nada ganhará por essa via. Mas perderá nos custos sociais pois os 7% dos trabalhadores a despedir juntar-se-ão a muitos outros, e a pesar ainda mais na segurança social.

Estamos na altura de distribuir melhor o menos trabalho disponível. E não de fazer o contrário. E, nesse processo, podemos reduzir custos fixos e beneficiar de um choque de competitividade que nos traga algum crescimento. Precisamos disso como de pão para a boca.

Aumento de meia-hora?
Só vai tornar as coisas piores…

Excepto para Pires de Lima e muitos patrões que anseiam por desempregar…
Esta medida nada adianta ao País e à Economia.
Só a alguns tubarões…

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