O Ministro Paulo Macedo “não
respeita vida humana… não posso aceitar que o ministro seja indiferente à morte
de pessoas em lista de espera…este senhor tem de ser posto fora; não pode estar
a cuidar de doentes”.
Disse o Dr. João Pena, director demissionário da Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação. Que pena…
Numa primeira análise, até podemos ser tentados a
aceitar, com comoção, o que disse João Pena. Mas, infelizmente, tudo é relativo.
A
verdade é que o País, nos últimos anos, tem vivido bem acima das suas possibilidades. E que só se
tem mantido assim porque se construiu uma ilusão sobre o dinheiro
emprestado (cada vez mais, na medida dos deficits) em cada ano que passava.
Hoje, já não nos emprestam. Daí
termos que ajustar o que gastamos ao que conseguimos produzir. Mas, pior do que
isso, começam a exigir que paguemos aquilo que pedimos emprestado nos últimos
anos. Ou seja, a queda - inevitável - da nossa economia real será muito evidente.
Todos nós, com o Estado à cabeça,
temos que mudar de vida.
E mudar de vida, nesta situação, será decidir o que teremos de deixar de fazer. Bem como dividir o (muito menos)
dinheiro que nos resta.
É um tempo de decisões e a opção
de deixar as coisas como estão, não está disponível.
Paulo Macedo começou a fazer o
que tinha que fazer: a decidir. E encontrou onde. Actuou em inúmeras situações
(é isso que se lhe exige) e, também, no serviço gerido pelo Sr. Dr. Pena.
Se analisarmos o microcosmos do
Dr. Pena, bem como os casos individuais que respeitam aos cidadãos que ficaram, infelizmente, dependentes de transplantes, poderemos ser tentados a concordar com a sua reclamação e demissão.
Mas se formos realistas,
verificamos que não resta alternativa ao Ministro. A verdade é que não temos -
mesmo – dinheiro e isso terá efeitos e consequências na vida de todos nós,
incluindo, nos serviços prestados pelo Estado.
A redução de despesas do Estado
poderá ser feita (com pequenos resultados) através da sua reestruturação (a
repetida situação dos Institutos a mais, menos cargos dirigentes, pessoal e reformulação
de procedimentos) mas, principalmente (onde pode haver cortes de despesa
significativos), haverá que actuar na prestação de serviços públicos. Menos
serviços públicos. Com consequências directas para as populações usufruentes,
mesmo que o governo não o consiga admitir facilmente.
Isto faz-se reduzindo níveis de
subsidiação (os utentes pagam mais) ou prestando – mesmo – menos serviços e com
menor qualidade.
Mas isto não é nada inesperado. Pois não há forma de se reduzir 15% das despesas globais (10% para ajustarmos o gasto ao produzido, mais 5% para começarmos a pagar o que gastamos de forma irresponsável ao longo
de – demasiados – anos) sem que a economia se retraía a nessa exacta dimensão. Até porque as exportações (sem que aí se proceda mais activamente) não serão solução equilibradora (senão numa pequena parte) pois exportamos para países que estão na mesmíssima situação que nós: em contracção e a proceder a ajustamentos internos.
Mas, voltando ao Dr. Pena, ainda
há um facto a explorar. Tudo aquilo que pode e deve ser feito no sentido da
eficiência e da maximização do (menos) recursos disponibilizados. Para isso,
são necessários dirigentes corajosos, disponíveis e conhecedores.
O Dr. João Pena e os seus
colegas máximos foram pelo caminho mais fácil. Saíram. Não nos recordaremos
deles no futuro pois, hoje por hoje, precisamos quem enfrente problemas e não de quem
foge deles.
A verdade é que, reconhecendo o
drama de quem poderá estar na lista de transplantes e que poderá ficar sem o
órgão necessário, temos que relativizar. É que, para cada 10 mil euros não
gastos ali (que poderão, simplesmente não existir, nem estarem disponíveis) a realidade mostra-nos que esses mesmos dez mil euros
até poderão - ou poderiam - evitar a morte (ou adia-la, tal como no caso do transplante) de centenas
de crianças (algumas delas em Portugal) que morrerão à fome se não tiverem a
ajuda necessária, naquele valor, na altura certa.
Foram afirmações perfeitamente dispensáveis,
da parte do Dr. Pena. Sem pena nenhuma, que venha o responsável seguinte.
1 comentário:
É o mesmo caminho que têm seguido os dirigentes do CEJ e outros Institutos, Centros e Direcções Gerais avulsas que são autênticos vales de tetas para se mamar.
Gosto de como essa troupe foge a sete pés e sacode as responsabilidades, mudam-se os ventos, mudam-se as vontades, mas a merda cheira sempre ao mesmo.
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