agosto 10, 2011

Tempos Adversos, de Vital Moreira

No Público de ontem, 9 de Agosto, Vital Moreira avança para um texto que, certamente, lhe foi difícil escrever. Nele, reconhece o falhanço generalizado da esquerda europeia e avança para algumas propostas sobre as razões de tal situação.

Como seria de esperar, não reconhece que terá sido o socialismo a falhar e, com ele a versão soft em que consiste a social-democracia.

Desenvolve o artigo sobre a queda da social-democracia, “incluindo os socialistas e trabalhistas”.

Mas, para o assunto, tanto faz. Vamos considerar que se estará a referir aos partidos da “secção europeia” da Internacional Socialista.

Passa perto mas evita - e bem - a explicação simplista em que colocaria a crise de 2008, com origem nos EUA como a razão de fundo da hecatombe socialista. Mas não sem questionar: não seria um prémio (aos liberais) infractores? Quando se esperaria que fossem os partidos socialistas chamados a regular (mais) os mercados financeiros, são os liberais que ganham eleições e se chegam à frente para resolver a questão?

E fixa-se, depois, nas suas razões: o baixo crescimento económico e problema da dívida gerada pela referida crise de 2008.

E explica que os socialistas falharam porque, face a esses dois factores, não puderam – de forma sustentada – distribuir riqueza e fazer crescer (ou no mínimo, manter) o Estado Social. E, fazer o contrário – o que se revelou necessário - está longe dos seus genes…

Nada mais errado e nada mais certo.

Nada mais errado ao se limitar aquelas duas razões de fundo. É que essas, também, são meras consequências. Da alteração dos tempos (a mudança da realidade económica nos países desenvolvidos já vem de há 20 anos) e das praticas e políticas – erradas – que foram prosseguidas pelos governos (maioritariamente socialistas) ao longo desses anos e que conduziram, justamente ao problema do défice e da dívida.

Nada mais certo, no que se refere à incapacidade socialista de governar … no sentido contrário ao que determina a sua ideologia. Daí terem sido postos "a andar".

Agora, digo eu: desde há 20 anos que os países (democráticos) desenvolvidos gerem um novo enquadramento mundial, ou seja, a Globalização. Por via deste facto, passaram a aceder a bens transaccionáveis muito mais baratos. O que foi bom, no principio. Depois, desencadeou-se o efeito consequente, em que foram perdendo gradualmente a sua produção para o exterior, reduzindo inexoravelmente a sua capacidade de produzir riqueza. Desde aí, estes países crescem (quando crescem) a 1, 2, 3 ou 4% do PIB ao ano, por conta de recursos obtidos nos mercados financeiros internacionais (cobrindo défices e criando dívidas crescentes) que atingem valores anuais (7,8,9 ou 10% do PIB), bem acima do crescimento resultante . 

Ou seja, apresentam “crescimentos virtuais” que acabaram por constituir “balões de oxigénio” dos governos socialistas (e outros, da área) que, passo a passo, foram mantendo as suas políticas suportadas por esses empréstimos cada vez maiores até que a dívida se revelou insuportável.

A verdade é que, desde há muitos anos que os países desenvolvidos não crescem. 
Esta é a realidade nua e crua. 
E até aqueles (países) que se costumam colocar fora do processo (os ditos bem comportados) devem essa situação aos gastos dos outros (os mal comportados). Ou seja, estão todos - sem excepção no "mesmo barco".

Como refere Vital Moreira, terminando o seu artigo, nada garante que, ultrapassada esta crise, se possa voltar a crescer economicamente, criando condições para o regresso do socialismo. Daí que, defende, o socialismo se deverá reinventar para que, durante muitos anos, possa continuar a exercer, nestes países, o seu papel de resistência (na oposição, concluímos) a favor do que, refere, é uma “sociedade mais justa”…

Claro que, e dizemos nós, haverá sempre países socialistas. Onde a riqueza cresce mesmo (países em desenvolvimento, para os quais esta crise não é com eles) ou "cai do céu" (países com riquezas naturais). Aí, onde é só distribuir, os socialistas lá estarão. Desde que não seja necessário criar, construir e produzir, tudo bem. Até que as suas políticas repitam, também aí, os seus efeitos usuais...

Sem comentários: