fevereiro 07, 2012

Grécia: o fim da linha para o “mundo desenvolvido”

É o início do fim.
Ou o início de uma nova era. Como se quiser.

Será brevemente confirmado que tudo o que se tem feito, até agora, no tratamento do problema da dívida soberana, apenas respeita a medidas de remedeio e de adiamento do momento em que se tem de encarar de frente a realidade. Uma nova realidade.

O “mundo desenvolvido” terá de empobrecer (pelo menos um pouco), para que o “resto do mundo” possa enriquecer (por pouco que seja). Assim, para que algumas centenas de milhões de chineses, indianos, brasileiros e não só, possam ter a sua vez, os habitantes dos países desenvolvidos (incluem-se os EUA) terão de ceder.

Para estes, um longo período de ajuste em baixa aproxima-se. Resta saber como será gerido. Em convulsão ou com contenção?

O caso da Grécia tem solução. E terá que ter, pois, de seguida, virão todos os outros países desenvolvidos. Mas todos mesmo.

E qual é essa solução?

1)Encarar a situação de frente. Reconhecer que toda esta situação é nova e que soluções antigas não funcionam. Assim, o País endividado e à porta do incumprimento, assume as rédeas da situação.

2)Unilateralmente, decide sobre o congelamento imediato da dívida soberana, sem prejuízo de assumir com o seu pagamento. Ao mesmo tempo, determina que passa a viver em situação de défice zero, inibindo-se de qualquer ajuda financeira internacional, quer para o pagamento da dívida (que é congelada), quer para o suporte do défice (que deixa de existir), quer para o comércio internacional, que se passa a fazer a pronto pagamento.

3)Assim, passa a emitir novos títulos de dívida soberana (que serão entregues aos credores à medida que as tranches de dívida se vão vencendo). Estes novos títulos terão um prazo de vencimento longo (30 anos), taxas referenciadas (Euribor) e amortização anual obrigatória (a pagar juntamente com os juros) de 1%. Para que esta situação não se confunda com a bancarrota, estes títulos deverão ser tratados "religiosamente". Sem quaisquer falhas. 

4)Provavelmente, para manter o Euro, será necessário uma desvalorização remuneratória total, aplicável a todo o País (e não apenas à função pública). Aí, as leis laborais abririam a porta à possibilidade (decidirá o empregador) de reduções unilaterais de ordenados, até 10% sem redução de horário ou até 20% com redução horária. A unidade de trabalho (emprego) passará a ser mais flexível, por iniciativa da empresa. Desta forma, as empresas poderão ajustar os seus custos fixos a uma menor procura, sem despedir. O trabalho disponível (cada vez menos) poderá ser melhor dividido. E as exportações poderão ser mais competitivas devido ao custo inferior do trabalho.

5)A “ajuda financeira internacional” deixa de suportar os devedores e passa a recair nos credores. Estes, ou “aguentam” com os novos títulos (e com as suas condições), ou vendem-nos no mercado ao preço que este definir. As perdas corresponderão ao custo do risco assumido na compra da dívida em questão. A “ajuda financeira internacional” pode intervir para evitar roturas sistémicas. Comprando, no mercado secundário, ou com haircuts negociados, os referidos títulos. Mas sempre na defesa dos credores e não dos devedores (essa fase já passou).

Seja lá como for, com esta solução ou com outra qualquer (como seja a bancarrota e saída do Euro), os mercados financeiros nunca mais sustentarão quaisquer dívidas soberanas. Os ratings actuais deixarão de ser compatíveis com uma solução de haircut aplicada à dívida da Grécia. E, rapidamente cairão para níveis de lixo. Todos. E aí, todas as disponibilidades financeiras (bem geridas) “fugirão” inapelada e rapidamente deste tipo de aplicações, deslocalizando-se para os países emergentes, onde estarão mais seguras e serão mais rentáveis.

A expectativa de, em 2013, 2015 ou 2020 os países endividados e sob medidas de resgate regressarem aos mercados é pura ilusão.

Pelo que, o caminho que atrás se anota, como o único disponível para a Grécia, ajustar-se-á, também, para todos os outros Países desenvolvidos. Passando por Portugal, mas incluindo a Itália, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Alemanha e … EUA.

Mais uma vez, a Sociedade Ocidental, nos termos que a conhecemos, chegou ao fim. Resta saber se se salvará a sua forma (através de um ajuste em baixa nos níveis de vida, depois de reconhecida e enfrentada a situação real – esta que descrevemos), ou se tudo se perderá em remedeios e adiamentos, tal como temos vindo a assistir, por parte dos líderes atuais, dignos representantes de um tipo de vida e de sociedade que levaram até ao esgotamento final.

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