maio 04, 2011

Mais uma "vitória marqueteira" de Sócrates

Lembram-se do défice de 2005?

Apesar de Bagão Felix nem ter (praticamente) começado a executar o orçamento, já Constâncio, face à entrada de Sócrates para o Governo, tinha “marcado” em 6,83% o défice orçamental. De uma forma totalmente virtual.
Como acontece com todos os governos (não socialistas, pelo menos) a execução orçamental é sempre limitada, pela tesouraria, pelo adiamento de pagamentos, pela contenção, pelos congelamentos e cativações. Com a finalidade de ajustar – ao máximo - as despesas às receitas (usualmente menores que o previsto), até ao melhor défice possível.
Nessa altura, os 6,83% cairam que nem ginjas aos novos governantes socialistas…
Sócrates pode gastar livremente até aquele valor, pois as culpas ficaram imputadas aos predecessores. Pode, até, antecipar pagamentos e despesas, libertando a execução do ano seguinte. E, mais importante, colocou – bem alta – a fasquia inicial do défice, valorizando mais, a descida que se propunha realizar, depois.
E reduziu o défice até 3,1% (números actuais). Já vimos que com a ajuda de (muita) desorçamentação.
Em 2008/2009 aproveitou a “crise internacional”, que não tocou Portugal, para branquear as medidas eleitoraleiras de 2009 que lhes deu a vitória em 2009. Mas colocou o País no caminho da bancarrota.
Foram 3 anos com défices próximos dos 10% pelo que, mais 30% de dívida soberana…
É que a “crise internacional” - que não teve impactos directos no País – “secou” a liquidez e sobrecarregou os Países com dívidas acumuladas para além do razoável. E, mais ainda, aqueles cujo dia a dia se fazia em défice estrutural.

Ontem, vimos Sócrates num papel semelhante.

Aproveitou o mix de medidas possíveis adoptáveis pela troika e somou-as todas.
Objectivo: fazer crer que aquele (aquela soma) era o ponto de partida. O de chegada, sendo inferior (apenas algumas das medidas somadas) seria uma sua vitória.

Por isso, ontem, assistimos ao discurso das não medidas
A que se seguiu, logo depois do Querido Líder, o exército dos jornalistas e comentadores (do grupo de Matosinhos) a cantar vitória.

Parece que todos se esqueceram da diabolização do FMI, criada por Sócrates e pelo PS, para recusar a evidência da necessidade da Ajuda Externa. Situação só ultrapassada (Sócrates, por ele, iria acumular mais PECs até à rotura total) com a provocação da queda do Governo e o chumbo do PEC4. Felizmente, ainda em tempo útil, o que permitiu que tudo se “encaixasse” até aos fatídicos mêses de Maio/Junho quando Portugal entrasse em incumprimento da dívida.

Quem defendia a Ajuda Externa? O PSD. O culpado pela vinda dos homens de negro…

Assim, poderemos resumir as derrotas de Sócrates:

1)O comprovativo que Sócrates continua a apostar no virtual e no marketing. O facto de ter falado das “medidas que podiam ter sido e não foram” ao invés de ter enfrentado as “medidas que terão sido”.

2)A queda do governo e o chumbo do PEC 4 foram vitais para a sobrevivência do país à rotura. Assim, poderemos gerir a bancarrota, a partir da almofada de 78 milhões que não teria vindo, por opção de Sócrates. Ele sempre lutou contra a “Ajuda Externa”.

3)O PSD era o culpado por ser ter de recorrer à Ajuda Externa. Agora, que se confirma que este era o caminho certo, o PSD passará de culpado a o quê?

4)O PEC4 era suficiente para um défice de 4,6%. Sempre disse Teixeira dos Santos. Afinal, agora, verifica-se que será necessário um PEC4 reforçado e, mesmo assim, o défice ficará (?) nos 5,9%. Ora, assim, confirma-se, que se não fosse chumbado o PEC 4, teríamos um PEC 5, um PEC 6, sabe-se lá mais o quê…

5)Sócrates tentará dizer que o PEC4 é que era bom e que a negociação actual o confirma. Mas há uma grande diferença: o PEC 4 não incluía 78 mil milhões para evitar a rotura…

6)A Ajuda Externa foi o elemento determinante para o alívio dos prazos de cumprimento do défice. Obrigado troika, obrigado PSD que lutou pelo recurso a este mecanismo. Pois Sócrates, sozinho, como queria ficar, teria que gerir para os 4,6%. Sem a "almofada" dos 78 mil milhões e com juros a 10%, a subir...

E, a cereja em cima do bolo: com a hipótese de rotura - por agora - afastada, mais algumas mudanças estruturais que serão hoje divulgadas, estaremos em condições de iniciar a Mudança necessária. Mas, uma coisa é certa: não se faz a mudança, com as mesmas “moscas”.

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