No Público de hoje, João Carlos
Espada anota o fato de, nos EUA, estar a ser lançado à opinião pública a ideia
da redução de impostos.
Causando a
estranheza geral no contraditório face ao que sucede na Europa.
O que não refere o articulista é
que as propostas centram-se na redução (ou até anulação) dos impostos sobre os rendimentos. Apenas…
A verdade é que não há nada que
admirar.
Se nos dias de hoje, a austeridade é necessária nos países desenvolvidos, mais importante seria que essa
austeridade fosse acompanhada por uma revisão, de alto a baixo, do sistema
fiscal e do sistema de financiamento dos encargos sociais.
O problema nos países
desenvolvidos é de défice. Défice que resultou da negação das democracias (por efeito – ou defeito - do sistema eleitoral) em evidenciar a necessidade de ajustar em baixa as condições de vida das suas
populações, face ao crescimento dessas mesmas condições de vida - mesmo que
para patamares irrisórios do ponto de vista ocidental - para gigantescas massas
populacionais em países emergentes (China, India, Brasil, etc).
O trabalho deslocalizou-se para essas economias e, com ele, a produção.
O trabalho deslocalizou-se para essas economias e, com ele, a produção.
A opção alternativa à austeridade – anotam
muitos – seria a injeção de dinheiro. Ora, seria uma decisão errada.
A injeção de dinheiro apenas poderia resultar caso não fosse um sinal no sentido inverso ao desejado; caso a nova liquidez se fixasse garantidamente no País e dinamizasse a economia produtiva, principalmente nos sectores mais básicos (primário e indústria); caso esse novo excedente não acabasse por contribuir para o aumento da dívida através das importações, demasiado entranhadas nas economias desenvolvidas; e caso as aplicações financeiras interessantes (para onde convergem os lucros e a poupança) não estivessem, claramente, no exterior.
A austeridade poderia resultar caso os gastos excessivos resultassem
de forma evidente, de compras de bens e serviços não essenciais, ao exterior; caso as economias mais desenvolvidas não estivessem fortemente tercerizadas; caso os setores primários e secundários não tivessem sido deslocalizados e canibalizados pelas importações; caso o sistema fiscal
não dependesse de forma tão decisiva de impostos sobre o rendimento; caso a (falta de) liquidez não fosse um problema.
É evidente que, num mercado financeiro globalizado em que a liquidez voa para onde é mais remunerada e para onde fica mais
segura, não serve de nada injectar dinheiro e sempre mais dinheiro. Essa liquidez extra desaparece num
ápice. Obrigando a outra injecção logo a seguir. Numa espiral cujo fim só pode ser o
descalabro. É como pretender manter um balde, com furos, sempre cheio de água, não
tapando os furos mas … deitando-lhe uma e outra vez e sempre, mais água.
Assim, resta a austeridade. No sentido do ajustamento do consumo às disponibilidades reais de cada um, de cada empresa, de cada região, de cada país.
Mas sem ajustes estruturais, a
austeridade por si só, será um redemoinho que não nos levará a sítio nenhum (ver caso da Grécia). Pois a cada
ajuste, haverá menos economia, menos receitas fiscais, mais desemprego, mais
despesas sociais. Mais défice, mais dívida e tudo regressa ao ponto de partida. Mais austeridade, mais...
Pelo que se tornarão necessárias medidas acessórias:
Erradicação total de todos os
impostos que não o imposto sobre o consumo.
Eliminação do sistema de
financiamento do sistema social sobre o trabalho.
Redistribuição do trabalho
disponível através de uma flexibilização do tempo de trabalho e do rendimento
salarial (até menos 20%) por iniciativa do empregador. Abrindo “espaço” para
uma maior empregabilidade e redução de encargos sociais.
Esta será a única receita
possível para aumentar a competitividade dos nossos produtos, no exterior, mas
também no interior (nunca ninguém se lembra da concorrência à nossa produção) no confronto interno com os produtos importados.
A realidade é que o custo dos
nossos produtos incorpora os impostos sobre o rendimento e os encargos sociais. O
que não acontece com os produtos externos. Este confronto é desigual e de
resultado (para nós), obviamente negativo …
A verdade é que se o sistema
fiscal só actuar sobre o consumo, também esses produtos externos, quando consumidos, passam a contribuir de igual forma - e em concorrência sã com os nossos produtos - para os nossos impostos e para o financiamento do sistema social.
Para além disso, uma quebra da economia de 1% terá impactos mais
ou menos a esse nível nas receitas fiscais. Pelo contrário, um sistema coletor como o actual, baseado nos lucros (e outros rendimentos) cairá muitíssimo mais nesse
enquadramento económico. Isto porque o mesmo foi desenhado para uma situação de
crescimento, o que, atualmente - para os países desenvolvidos - é uma quimera
sebastiânica.
Não virá mais… apesar de estarem todos os nossos líderes fixados nela.
Não virá mais… apesar de estarem todos os nossos líderes fixados nela.
Cegos, a caminho do abismo.