Caixa de Pandora aberta, sem dúvida.
E não só na Grécia. Será a machadada final para todo o sistema de financiamento de défices
e refinanciamento de dívidas soberanas.
A partir do momento que um haircut seja entendido como uma
solução, está aberta, irremediavelmente a caixa de Pandora.
Daí para a frente, nenhum investidor livre e consciente (restarão,
ainda, por algum tempo, alguns “investidores” menos livres que manterão ilusoriamente
o sistema) colocará um euro ou dólar que seja no mercado de refinanciamento das
dívidas soberanas, pelo menos, nos países que não tenham resolvido – claramente
– a questão do défice (público, comercial e outros).
E, daí para a frente, haverá como que um “aspirador gigante de liquidez”,
pendente sobre os países desenvolvidos, “sacando” toda a poupança (grande ou
pequena) ou lucros libertos e direccionando-os para as aplicações realmente
interessantes, em zonas do Mundo onde há crescimento económico, rendimento do
capital e segurança na aplicação. A dívida soberana nos países desenvolvidos,
antes sinónimo de segurança, perderá aqui, e neste haircut, toda a sua
mais-valia. Toda mesmo.
Tentando encher de água, um recipiente furado…
Hoje, por hoje, alguns países acham-se salvaguardados de
tudo isto. Alguns imprimindo papel moeda, outros dando acesso a fundos
ilimitados a partir de Bancos Centrais. Nada de mais enganador…
A curto prazo, a liquidez tenderá a desaparecer rapidamente dos países
desenvolvidos. O processo começou nos países (desenvolvidos) mais frágeis, no
que respeita às suas balanças comerciais, com saldos negativos. Mas logo chegará a todos. Pois se hoje, o aspirador ainda retira fundos de países desenvolvidos para os debitar noutros, amanhã, o débito
virar-se-à – exclusivamente – para os países emergentes. E isto acontecerá
sempre e com todos os recursos financeiros libertos, que se inventem, imprimam ou se disponibilizem.
A desvalorização da moeda (excessivamente disponibilizada) e a travagem nas
economias desenvolvidas será cada vez mais evidente e poderá originar roturas impossíveis de gerir.
E tudo isto acontecerá sempre, incontornavelmente e por uma
razão muito simples: há centenas (ou mais) de milhões de pessoas, em países como a China,
Índia ou Brasil, disponíveis para trabalhar a um custo ínfimo que, no entanto, para eles, significará maior riqueza e melhor nível de vida. Por isso, será para lá que irão
os capitais e os investimentos. E também a produção e o trabalho.
Como o planeta Terra é
um sistema fechado e com os recursos já em sobre-exploração, quando se
acrescenta ali, perde-se alguma coisa aqui…
Para que muitos ganhem um pouco, as populações nos países
desenvolvidos terão de ceder algo nas posições ganhas ao longo de dezenas de anos. Resta
saber quanto, com que rapidez e de que forma.
A solução passa por entender e assumir a realidade: que acabaram os
anos bons e de crescimento nos países desenvolvidos. Que haverá que enfrentar
anos duros, de ajuste, em recessão.
Assumir e gerir este processo com realismo
será a única forma possível para evitar a rotura, a anarquia e o advir de uma
pobreza extrema erradicada há dezenas de anos das nossas sociedades.
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