fevereiro 02, 2012

Haircut na Grécia: solução ou abertura de uma caixa de Pandora?


Caixa de Pandora aberta, sem dúvida.

E não só na Grécia. Será a machadada final para todo o sistema de financiamento de défices e refinanciamento de dívidas soberanas.

A partir do momento que um haircut seja entendido como uma solução, está aberta, irremediavelmente a caixa de Pandora.

Daí para a frente, nenhum investidor livre e consciente (restarão, ainda, por algum tempo, alguns “investidores” menos livres que manterão ilusoriamente o sistema) colocará um euro ou dólar que seja no mercado de refinanciamento das dívidas soberanas, pelo menos, nos países que não tenham resolvido – claramente – a questão do défice (público, comercial e outros).

E, daí para a frente, haverá como que um “aspirador gigante de liquidez”, pendente sobre os países desenvolvidos, “sacando” toda a poupança (grande ou pequena) ou lucros libertos e direccionando-os para as aplicações realmente interessantes, em zonas do Mundo onde há crescimento económico, rendimento do capital e segurança na aplicação. A dívida soberana nos países desenvolvidos, antes sinónimo de segurança, perderá aqui, e neste haircut, toda a sua mais-valia. Toda mesmo.

Tentando encher de água, um recipiente furado…

Hoje, por hoje, alguns países acham-se salvaguardados de tudo isto. Alguns imprimindo papel moeda, outros dando acesso a fundos ilimitados a partir de Bancos Centrais. Nada de mais enganador…

A curto prazo, a liquidez tenderá a desaparecer rapidamente dos países desenvolvidos. O processo começou nos países (desenvolvidos) mais frágeis, no que respeita às suas balanças comerciais, com saldos negativos. Mas logo chegará a todos. Pois se hoje, o aspirador ainda retira fundos de países desenvolvidos para os debitar noutros, amanhã, o débito virar-se-à – exclusivamente – para os países emergentes. E isto acontecerá sempre e com todos os recursos financeiros libertos, que se inventem, imprimam ou se disponibilizem.

A desvalorização da moeda (excessivamente disponibilizada) e a travagem nas economias desenvolvidas será cada vez mais evidente e poderá originar roturas impossíveis de gerir.

E tudo isto acontecerá sempre, incontornavelmente e por uma razão muito simples: há centenas (ou mais) de milhões de pessoas, em países como a China, Índia ou Brasil, disponíveis para trabalhar a um custo ínfimo que, no entanto, para eles, significará maior riqueza e melhor nível de vida. Por isso, será para lá que irão os capitais e os investimentos. E também a produção e o trabalho

Como o planeta Terra é um sistema fechado e com os recursos já em sobre-exploração, quando se acrescenta ali, perde-se alguma coisa aqui…

Para que muitos ganhem um pouco, as populações nos países desenvolvidos terão de ceder algo nas posições ganhas ao longo de dezenas de anos. Resta saber quanto, com que rapidez e de que forma.

A solução passa por entender e assumir a realidade: que acabaram os anos bons e de crescimento nos países desenvolvidos. Que haverá que enfrentar anos duros, de ajuste, em recessão.

Assumir e gerir este processo com realismo será a única forma possível para evitar a rotura, a anarquia e o advir de uma pobreza extrema erradicada há dezenas de anos das nossas sociedades.

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