maio 30, 2013

O crescimento perdido

Muitos articulistas apontam a Europa como "a" zona problemática no actual contexto global. Nada seria mais redutor. Logo se verificará que o problema não é exclusivo da Europa, mas sim, do grupo dos países desenvolvidos (nomeadamente os endividados), face aos emergentes.

Nestes últimos, cresce o nível de vida médio das populações (com rendimentos ainda baixos em relação às médias mundiais e muitíssimo baixos em relação às médias nos países desenvolvidos).

Isto deve-se à globalização, que deslocaliza o trabalho para onde o mesmo é mais barato e onde a produção é competitiva. Fecham fábricas num lado e abrem-se noutro. A face boa desta moeda, para os países desenvolvidos é o acesso a bens e serviços a preços bem inferiores em relação aqueles que usufruiriam caso a produção fosse local. Mas isto só é válido na fase inicial. Pois com cada vez menos produção, haverá menos rendimento e menos capacidade de comprar, mesmo o que é global e barato. Os PCs, portáteis, TVs, Tablets ...

Enquanto nos países emergentes cada um passa a ganhar mais um pouco, mas sempre mais que antes, subindo um degrau nos rendimentos usufruídos, nos países desenvolvidos passa-se o inverso. Muitos deixam de produzir, caindo nas malhas dos apoios sociais. Que, ao precisarem de acudir a cada vez mais pessoas, forçaram défices maiores, ao crescimento da dívida, dos seus juros e à impossibilidade do seu refinanciamento que, logo de seguida, levaram à insustentabilidade de todo o sistema e aos Memorandos de salvamento... 

Assim, o crescimento global nos próximos anos (veremos até quando será possível pois o planeta não estica) concentrar-se-há nos países emergentes. A taxas bem superiores às das médias globais. Neste aspecto, haverá uma maior justiça na distribuição da riqueza mundial, reconheçamos...

Simplesmente, este processo mostrará uma outra "face da mesma moeda": haverá uma relação causa-efeito nas economias nos países desenvolvidos, que se traduzirá numa recessão persistente (ou um ajuste - em baixa - como se queira chamar) das suas economias. A tendência será para o equilíbrio, com uns a cair (os desenvolvidos) e os outros a subir (os emergentes), uns em direcção aos outros, em convergência, no tal processo de reequilíbrio na distribuição da riqueza. 

Quem diria? O capitalismo a promover uma mais justa distribuição da riqueza disponível...

O problema dos países desenvolvidos é que - hoje - a teoria económica suporta-se exclusivamente no crescimento. Sem ele (e realisticamente será sempre sem ele a partir de agora) tudo se esfuma: o pagamento da dívida, os défices controlados, os níveis de vida e consumo ocidentais, o estado social...

Porque o esquema de ponzzi suportado pelo tal crescimento (perdido) chegou ao ponto de rotura.

Contra tudo isto, é preciso mudar muito. Começando por reescrever todas as teorias e folhas excel aplicáveis aos países desenvolvidos com uma variável fixa: recessão persistente até ao ajuste final ...

Mas há soluções:
http://existenciasustentada.blogspot.pt/

maio 27, 2013

Recessão também na Alemanha?

Está a chegar a recessão à Alemanha.
Como era de esperar.
A Alemanha (e as suas exportações) dependem da saúde económica de quem lhes compra os produtos e serviços que exporta.
Como estão todos a definhar, também a ela chegará o problema.
Primeiro, a recessão. Depois o abrandamento produtivo, o desemprego, etc.

No final, todos entenderemos que o problema não é financeiro nem sequer monetário. E isso prova-se através do facto de que a Alemanha tem o dinheiro que quiser, a custo zero (estão lá, “refugiados”, centenas de milhões dos Países periféricos, que “secam” as respectivas economias). E  o BCE dispõe de valores idênticos para quem (os bancos) precise.

Já não resulta. O problema não é de dinheiro. Nem de impressoras na Casa da Moeda. O problema é mesmo económico.

E só poderá ser atalhado com medidas fiscais (há aqui uma revolução a fazer) e com a redistribuição do trabalho. Quanto às dívidas, “congelam-se”, com apoio (aqui sim) de medidas monetárias (eurobonds ou outras opções). Sem prejuízo de, antes, serem anulados todos os défices públicos, sem excepção.

Uma curiosidade: os EUA também estão no mesmo “comboio”. Vão ter que continuar a ajustar, em queda. Como todos os países desenvolvidos cujo consumo excede, em muito, o que é razoável para um planeta (que não estica e) que tem que acolher centenas de milhões de chineses - que têm vindo a açambarcar muito do trabalho e produção mundial - com níveis de vida e consumo, em crescendo...

Ora, com o fim do crescimento nos países desenvolvidos, tudo terá que ser alterado. Pois, sem crescimento, as políticas, teorias e ideologias económico-financeiras correntes pura e simplesmente não funcionam. Como não funciona qualquer sistema de ponzzi quando as entradas a partir dos contribuintes – necessariamente sempre em crescendo - passam, inversamente a cair a serem inferiores às saídas com destino à massa de benificiários sociais.

maio 15, 2013

Unidade de trabalho

O cerne da mudança nos países desenvolvidos

A unidade de trabalho nos países desenvolvidos tem-se mantido estável (7-8 horas diárias) nas últimas dezenas de anos.

Tem sido a opção preferencial dos decisores políticos manterem essa dimensão temporal, reflectindo os ganhos de produtividade nos rendimentos dos trabalhadores eleitores  (e noutros factores económico-financeiros, como os lucros, reconheçamos) concedendo-lhe melhores níveis de vida.

Uma opção que, de certa forma, contraria os objectivos e intenções sempre manifestados ao longo da evolução da sociedade humana, com vista a se obter mais rendimento, trabalhando menos. Nesse processo, apareceu a roda, a máquina, o computador.

Desde há cerca de 15 anos, muita coisa mudou. Essencialmente, por via da globalização, a competitividade cresceu com a abertura das fronteiras (deslocalizando muito trabalho), as políticas monetárias desvalorizaram-se (o dólar perdeu o seu monopólio e o euro eliminou as moedas nacionais dos seus países constituintes), as fontes de energia barata acabaram e a disponibilidade de matérias primas naturais, básicas e essenciais começa a ser colocada em questão (os recursos do planeta não são inesgotáveis).

Em resultado disto tudo, nos países desenvolvidos, claramente, não há trabalho para todos. E bem pior que isso, não há trabalho para muitos. E reforçando o estado negativo das coisas, são os jovens os mais penalizados.

É uma terrível situação, muito real, e uma tremenda ilusão achar que se vai continuar a crescer...

A verdade é que não vamos crescer mais. Pelo menos, antes de cairmos muito (mais).

Crescemos nos últimos 30 anos à custa de energia barata, de aumentos de produtividade, por conta de políticas monetaristas (que se pagam mais tarde) e de algum isolamento comercial (pré-globalização). Ora, estes elementos, já foram...

Sem políticas monetárias, injectar dinheiro na economia - para crescer - deixa de ser eficaz. Pois esse investimento passou a ser concretizado com dinheiro bem real (riqueza) e não apenas através de notas recém-impressas. Qualquer dólar impresso para pagar importações da china acaba novamente nos EUA, através da compra de bens e empresas ou em aplicações de dívida pública. Já não são dólares que se imprimem e se dispersam pelo Mundo. São dólares que voltam, na sua plenitude...

Mai. Injectar dinheiro nas actuais condições económico-financeiras é como tentar encher de água um balde com furos. A possível reactivação económica é muitas vezes menor (1 ou 2% do PIB) do que a injecção financeira necessária (5, 8, 10% do PIB). Isto porque o dinheiro lançado à economia acaba por sair “por muitos furos” por razões evidentes: para o colchão (devido à insegurança crescente das aplicações bancárias), para a segurança (em bancos noutros países, como refugio), para a rentabilidade (aplicações em investimentos em países emergentes).

Daquela forma, defendida pelos crescimentistas, gastando 8 ou 10 para conseguir 1 ou 2 estamos perante um negócio ruinoso de consequências lamentáveis para quem vem depois (e que tem de pagar a conta).

Temos, em Portugal, 20% de desemprego. Números que não traduzem uma realidade ainda mais dura que se revela no desemprego jovem. E que, por sua vez não consideram os números (assustadores) daqueles que já saíram do País.

Como consequência, temos o futuro a sair porta fora. Literalmente.

Quem contribuirá dentro de poucos anos para o financiamento do sistema social? Quem constituirá família e terá filhos em Portugal nos próximos anos?
Faça-se uma extrapolação de 10 ou 15 anos (considerando estas saídas) no cálculo do factor de ajustamento da idade de reforma. Com que idade se reformarão os trabalhadores (se o forem, ainda) nessa altura, com a pensão completa? 75 anos? 85 anos?

É por tudo isto que urge alterar a dimensão da unidade de trabalho actual.
Passando de 7-8 horas diárias, para as 6-7 horas. Com o ajuste proporcional do rendimento correspondente. Ler aqui.

É uma medida de partilha do trabalho disponível no sentido da salvaguarda do futuro da sociedade. Se prevalecer o egoísmo dos empregados face aos desempregados é o fim da sociedade tal como a conhecemos. Tudo se desmoronará. Democracia, Estado Social, Segurança... 

maio 13, 2013

Seguro e o PS

Não precisamos de um PS e de um Tó Zero Seguro a zurzir em tudo o que faz o Governo, ao tentar retirar o País do lodaçal em que o PS e Sócrates o lançou. 

Queremos, isso sim, alternativas e propostas para levantar o País. Daí que, em vez de dizer que discorda da taxa sobre os reformados, diga, em concreto que a irá eliminar no dia seguinte à sua tomada de posse, quando e se, for primeiro ministro. Assim, saberemos com que mentirosos contamos (ou não contamos).

Isto porque, ser contra, não concordar e/ou não querer ou não gostar, é fácil. Encontrar a alternativa, é que mais complicado. E, para primeiro ministro, precisamos mesmo é de quem apresente e implemente alternativas válidas...

Se discorda, diga desde já que vai revogar as medidas assim que chegar ao poder. Claro que terá de esclarecer - em simultâneo - a situação com os nossos credores. Porque isto de dizer à Troika que garante os objectivos mas, ao mesmo tempo, que anula todas as medidas para os atingir, tem que se lhe diga...

maio 09, 2013

Desemprego - mais e mais desemprego

Os números continuam a subir. E não têm como começar a descer face às actuais políticas de trabalho.

Vamos a caminho dos 20% de desemprego. E a consequência imediata, mais grave (para além dos custos sociais que acarreta) é a saída do País de dezenas de milhar de jovens por ano. Desta forma, o País perde a componente mais bem formada da sua força de trabalho, os contribuintes do futuro e a renovação populacional que estes mesmos deixarão de assegurar. Ou seja, sai o nosso futuro porta fora.

Precisamos de empregar rapidamente três quartos dos desempregados.

E nenhum crescimento económico (seja ele qual for) nos vai garantir isso. Até porque as medidas avulsas de crescimento, nesta área (desemprego) nem vão compensar os efeitos das outras medidas absurdas de aumento da idade de reforma, aumento das horas de trabalho, redução de feriados e férias.

Assim sendo, só há uma solução imediata:

Abertura a todos os empregadores (incluindo o Estado) para, unilateralmente, poderem reduzir o tempo de trabalho até 20% com o correspondente corte remuneratório. A possibilidade deste corte seria menor, até zero, nas remunerações próximas ou iguais ao salário mínimo. Defendendo quem menos ganha. 

Este processo será facultativo (a decidir pela entidade empregadora) e é reversível a qualquer momento, se e quando ultrapassada a fase mais difícil. 

E pode ser aplicado a uns funcionários e não a outros, por decisão livre do empregador. 

Haverá benefícios (cortes na TSU a pagar, pelo funcionário e pela empresa) para quem aderir a este processo. Assim, ajustam-se as empresas que têm pessoal a mais (evitando falências e despedimentos), e criam-se novos empregos nas empresas e entidades que têm o pessoal necessário ou que estão a crescer. Sobre esta matéria, ler pormenorizadamente, aqui.

Esta solução não é nada complicada de entender e é consequência da evolução e dos tempos. A Humanidade sempre procurou trabalhar menos garantindo a mesma produção. A roda, a máquina a vapor, o computador, a energia, foram invenções e processos que pareciam conduzir aquele objectivo. 

Mas não. Em vez de manter todos no processo produtivo (cada um a trabalhar menos) prefere-se sobrecarregar alguns e despedir os outros. Com a certeza de que a sobrecarga sobre os primeiros apenas servirá para suportar os custos sociais com os segundos.

Porque se continua a insistir neste erro? Só se for por isto: ler aqui.

maio 08, 2013

O financiamento internacional


Ter acesso a financiamento externo é coisa boa mas, como já aqui referi, não resolve coisa nenhuma. Quanto muito, adia.

O BCE dispõe aos bancos, bateladas de euros a pouco mais de zero por cento.
Os bancos alemães têm dinheiro a rodos (são o refúgio das poupanças dos países periféricos) pagando por ele ... zero por cento.
O Estado alemão financia-se a taxas negativas.
O Estado Português não dispõe - à sua população - títulos de acesso fácil para aí localizarem as suas poupanças (remunerando-as às taxas a que se endivida junto aos "investidores internacionais"). Porquê?

As poupanças individuais nacionais acabam nos bancos alemães (quando não no colchão) a zero por cento. Depois, esse dinheiro volta para Portugal a 5,6% pelas mãos dos “investidores internacionais” ou a um pouco menos, mas com Memorandos acoplados...

maio 03, 2013

O erro da coisa

O desemprego vai chegar aos 18,5% em 2014.
Bem, se prevêem 18,5%, vai superar os 20% de certeza.
Afinal, todas as políticas implementadas apontam para isso. E os números em Espanha são uma amostra do que é possível.

Não consigo aceitar que não se coloque em cima da mesa, uma alternativa a este processo que é – socialmente – demasiado negativo.

Temos quase 20% de desemprego, ou seja, 1 português em cada 5, sem emprego. É verdade que o crescimento traria empregos. Mas muitos falam de crescimento da boca para fora. Ora, o crescimento exige investimento e este precisa de dinheiro. Que não há. O investimento necessita de expectativas positivas de quem investe. Que não existem.
Quem fala de crescimento fala de ilusões. Não haverá crescimento algum nos próximos (alguns) anos.

Isso coloca os 20% de portugueses desempregados em problemas.
Problemas que crescem se a idade de reforma sobe.
E se quem trabalha, passa a trabalhar ainda mais.
Vinte por cento é muita gente. Muito indignado. Que precisam de apoio social. Que se não vier coloca os indignados na rua. No crime ou em manifestações frente à Assembleia.
Daí ter que haver apoio social. Que custará dinheiro, que terá de vir do trabalho de outros. Daqueles que, ao trabalhar mais horas, vão colocar no desemprego os primeiros.
Mas, pior que isso é assistir à separação de famílias e à saída dos jovens, que emigram à procura de trabalho.

Como recuperará o País o investimento feito na sua formação?
Quem terá filhos em Portugal no curto prazo?
Como se renovarão as gerações?
Quem contribuirá para o sistema social no futuro?

Que sentido terá isto tudo?

Nenhum. A actual política de trabalho é um erro tremendo.

Há menos trabalho disponível. As razões são várias e incluem os ganhos na introdução de novas tecnologias e a deslocalização de fábricas e produção para o exterior. E a expectativa de crescimento para recuperar dessa situação (sem custos maiores que os ganhos) é uma ilusão.

Esta redução do trabalho disponível era previsível e corresponde a um ideal de sempre da humanidade: viver bem, trabalhando cada vez menos.

Chegados a este ponto, o procedimento lógico apontaria para uma redução do tempo de trabalho associado a um emprego. Numa lógica de partilha numa sociedade que se deveria reequilibrar quando algo (neste caso o emprego disponível) falha.

O caminho correto seria:

1)Promover reformas mais cedo com os consequentes ajustes (cortes na pensão).
2)Permitir um corte no tempo de trabalho associado a cada emprego associado a um corte remuneratório proporcional.

Ler mais, aqui:
O caminho errado? É o que estamos a seguir... 

Política de trabalho desastrosa

Aqui está a resposta de Gaspar ao chumbo do Tribunal Constitucional.
Reforma mais tardia, mais horas de trabalho e mais descontos sociais na função pública.
Uma resposta que já não engana. Gaspar não governa para o País. Está a fazer o jeito à Alemanha.

A Alemanha tem todo o dinheiro. É ali que acabam todas as disponibilidades financeiras da Europa, nomeadamente dos países periféricos. Refúgio de capitais, mesmo que a taxa zero.

Logo, tem toda a capacidade de investimento.

As empresas alemãs têm muito crédito a baixo custo. Assim, têm custos mais baixos e ganham mercado (para os seus produtos). É ali que se investe, é ali que poderá haver crescimento, é ali que poderá haver (mais) trabalho. Nomeadamente na parte Leste (de Merkel) do País.

Resta apenas um problema: não têm trabalhadores para esse crescimento. E não querem trabalhadores orientais (turquia e não só) e africanos. Já se aperceberam dos efeitos (sociais) negativos dessa imigração.

Restam, os países do Sul da Europa. Muito mais adaptáveis cultural e socialmente à Alemanha.
Vai daí, é simples: coloca-se uns gaspares no sítio certo, lançam-se políticas desastrosas, incrementa-se o desemprego e fazem-se uns roadtours a angariar jovens, já com a formação feita (e integralmente paga) para irem trabalhar para a Alemanha. Ao mesmo tempo que o primeiro ministro vai dizendo que emigrar é coisa boa e positiva.

Entretanto, sai a nossa juventude (não tem emprego cá) já formada - com investimento público que agora enforma a nossa dívida - e com ela, o futuro do País.
Esta política é desastrosa.

E a alternativa que se vai desenhando (pelo PS e outra esquerda), também...

A solução (boa para o País) é a inversa mas, sobre essa alternativa, nem uma palavra. 
Ler aqui: 
http://notaslivres.blogspot.pt/2012/10/medida-3-divisao-distribuicao-do.html