maio 15, 2013

Unidade de trabalho

O cerne da mudança nos países desenvolvidos

A unidade de trabalho nos países desenvolvidos tem-se mantido estável (7-8 horas diárias) nas últimas dezenas de anos.

Tem sido a opção preferencial dos decisores políticos manterem essa dimensão temporal, reflectindo os ganhos de produtividade nos rendimentos dos trabalhadores eleitores  (e noutros factores económico-financeiros, como os lucros, reconheçamos) concedendo-lhe melhores níveis de vida.

Uma opção que, de certa forma, contraria os objectivos e intenções sempre manifestados ao longo da evolução da sociedade humana, com vista a se obter mais rendimento, trabalhando menos. Nesse processo, apareceu a roda, a máquina, o computador.

Desde há cerca de 15 anos, muita coisa mudou. Essencialmente, por via da globalização, a competitividade cresceu com a abertura das fronteiras (deslocalizando muito trabalho), as políticas monetárias desvalorizaram-se (o dólar perdeu o seu monopólio e o euro eliminou as moedas nacionais dos seus países constituintes), as fontes de energia barata acabaram e a disponibilidade de matérias primas naturais, básicas e essenciais começa a ser colocada em questão (os recursos do planeta não são inesgotáveis).

Em resultado disto tudo, nos países desenvolvidos, claramente, não há trabalho para todos. E bem pior que isso, não há trabalho para muitos. E reforçando o estado negativo das coisas, são os jovens os mais penalizados.

É uma terrível situação, muito real, e uma tremenda ilusão achar que se vai continuar a crescer...

A verdade é que não vamos crescer mais. Pelo menos, antes de cairmos muito (mais).

Crescemos nos últimos 30 anos à custa de energia barata, de aumentos de produtividade, por conta de políticas monetaristas (que se pagam mais tarde) e de algum isolamento comercial (pré-globalização). Ora, estes elementos, já foram...

Sem políticas monetárias, injectar dinheiro na economia - para crescer - deixa de ser eficaz. Pois esse investimento passou a ser concretizado com dinheiro bem real (riqueza) e não apenas através de notas recém-impressas. Qualquer dólar impresso para pagar importações da china acaba novamente nos EUA, através da compra de bens e empresas ou em aplicações de dívida pública. Já não são dólares que se imprimem e se dispersam pelo Mundo. São dólares que voltam, na sua plenitude...

Mai. Injectar dinheiro nas actuais condições económico-financeiras é como tentar encher de água um balde com furos. A possível reactivação económica é muitas vezes menor (1 ou 2% do PIB) do que a injecção financeira necessária (5, 8, 10% do PIB). Isto porque o dinheiro lançado à economia acaba por sair “por muitos furos” por razões evidentes: para o colchão (devido à insegurança crescente das aplicações bancárias), para a segurança (em bancos noutros países, como refugio), para a rentabilidade (aplicações em investimentos em países emergentes).

Daquela forma, defendida pelos crescimentistas, gastando 8 ou 10 para conseguir 1 ou 2 estamos perante um negócio ruinoso de consequências lamentáveis para quem vem depois (e que tem de pagar a conta).

Temos, em Portugal, 20% de desemprego. Números que não traduzem uma realidade ainda mais dura que se revela no desemprego jovem. E que, por sua vez não consideram os números (assustadores) daqueles que já saíram do País.

Como consequência, temos o futuro a sair porta fora. Literalmente.

Quem contribuirá dentro de poucos anos para o financiamento do sistema social? Quem constituirá família e terá filhos em Portugal nos próximos anos?
Faça-se uma extrapolação de 10 ou 15 anos (considerando estas saídas) no cálculo do factor de ajustamento da idade de reforma. Com que idade se reformarão os trabalhadores (se o forem, ainda) nessa altura, com a pensão completa? 75 anos? 85 anos?

É por tudo isto que urge alterar a dimensão da unidade de trabalho actual.
Passando de 7-8 horas diárias, para as 6-7 horas. Com o ajuste proporcional do rendimento correspondente. Ler aqui.

É uma medida de partilha do trabalho disponível no sentido da salvaguarda do futuro da sociedade. Se prevalecer o egoísmo dos empregados face aos desempregados é o fim da sociedade tal como a conhecemos. Tudo se desmoronará. Democracia, Estado Social, Segurança... 

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