novembro 14, 2012

Medida 6. Criação de grupo de pressão europeu dos países a ajustar

No post publicado a 4 de Julho “O foco errado: na dívida soberana” propusemos uma série de actuações necessárias para sairmos da camisa-de-força a que estamos sujeitos.

Elencamos 9 áreas de actuação.


Vamos desenvolver, neste post, a sexta:

Criação de grupo de pressão europeu (dos países "secos" de liquidez) sobre a Alemanha

Temos a Grécia,
Temos Portugal e Irlanda.
Espanha e Itália e outros se seguirão…

O problema é das sociedades desenvolvidas e começou por estes países. Depois virão todos os outros. Daí que, ou a Europa, no seu todo, incluindo a Alemanha, entende e interioriza tudo isto ou o "caldo fica entornado". Neste momento temos uma Europa a dois ritmos.

Uma Europa a definhar

Num lado, a liquidez a zero. A economia não tem recursos, os bancos idem. Ninguém empresta e quando isso acontece, as taxas são proibitivas ou até extorsionárias (7,8 ou até 9%). As obrigações "acabaram" (o exemplo da Grécia tornou esse tipo de aplicação uma anedota) e os depósitos também (uma saída do Euro de um qualquer país – que não terá aviso – delapidaria o valor acumulado em poupança). Não havendo poupança, não há liquidez. O que inviabiliza o investimento e o funcionamento regular da economia. Tudo trava, pára e morre. Há cada vez menos receitas fiscais, instalam-se os défices, a depressão económica e a dívida cresce. Se o dinheiro não acaba nos bancos alemães, vai para baixo dos colchões…

Uma Europa a ganhar com isso

Noutro lado (noutros países) a liquidez aflui aos bancos locais a taxas negativas (os depositantes pagam para depositar). Liquidez à farta, a baixo custo para investimentos, para a economia e para as empresas. Lucros gigantescos para os bancos. Mas, mesmo para esta Europa, a situação não dá garantias de futuro. Pois será limitada a capacidade do BCE para colocar liquidez no mercado (e nos bancos). As dívidas públicas continuam a crescer. E o crescimento que não reaparece na economia. Esta segunda Europa terá, por estes tempos, algo a ganhar com a situação. Mas, a curto-médio prazo estará também entalada.

É aqui que é necessário retirar a ideia de que são os "contribuintes" alemães a financiar os processos de ajuste dos países do Sul. Bem pelo contrário. Há fluxos financeiros gigantescos do Sul para o Norte onde o dinheiro encontra "companhia" e por isso "segurança". E é este dinheiro que até é remunerado a taxas negativas que activa a economia alemã e é um negocio substancial para a banca germânica que, depois, o empresta a taxas extorsionárias, ao Sul, ao abrigo de planos de auteridade...

Processo de ajuste

A primeira Europa deverá se fazer valer, criando um grupo forte que imponha algumas condições para o processo de ajuste que terá de fazer.

Cinco anos para colocar o défice a zero (e não a 3%). É o compromisso que fica assumido. É o tempo necessário para que se possa fazer um ajuste gradual, consistente, social e economicamente sustentado. Sem prejuízo de se entender e assumir, que o ajuste (sim, também do nível de vida) é feito em baixa.

Nesses cinco anos, a dívida pública “congela” por decisão unilateral desse grupo de países.

Cada tranche – e respectivos juros – à medida que se vence, paga-se através de novos títulos de dívida a 20 anos e a uma taxa Euribor acrescido de um pequeno spread (não extorsionário).

Os Fundos Internacionais de Equilíbrio Financeiro passam a agir no apoio aos credores e não no apoio aos devedores, como até agora. Comprando os referidos títulos a quem os queira vender (com ou sem perdas associadas). O serviço destes títulos deve ser rigorosamente cumprido.

Os défices (decrescentes) que se geram nos cinco anos de ajuste devem ser absorvidos internamente [ler aqui]. Não havendo, para estes efeitos, recurso a financiamentos externos.

Ao longo dos cinco anos, os Estados deverão se ajustar, na sua dimensão (o que fazem, o que garantem, o que financiam, o que cobram) com vista à sua refundação e à referida anulação do défice. Não deverão ser criadas ilusões quando à quantidade e qualidade da intervenção pública (o Estado Social), que, no final deste processo, será sempre inferior à inicial.

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