A verdade é que ao produzir um Manifesto e ao referir uma reestruturação da dívida, este grupo de ex-responsáveis e políticos só se poderão estar a se referir à possibilidade de não a pagar ou, no mínimo de pagar menos.
Ora, é evidente que não cabe a quem deve (exclusivamente) decidir se quer ou não pagar...
E ao decidir por essa via, enfrentaremos reações óbvias. E que serão todas negativas pois ainda vivemos em défice (e por isso precisamos todos os anos de financia-lo) e dependemos muito do exterior (energia e muitos bens transacionáveis que não temos por cá).
E não vale a pena dizer que reestruturar é reduzir juros e aumentar maturidades pois isso está a ser feito, todos os dias, pelo Governo. Afinal os últimos leilões e colocações de dívida tiveram esse efeito. Sem falar no facto de que são estas políticas (contestadas pelos signatários) que têm vindo sistematicamente a permitir a redução - pela confiança dos mercados financeiros no nosso processo - dos juros exigidos, o que permite o refinanciamento da dívida em condições bem mais vantajosas para o País. Se é ista a reestruturação da dívida proposta, não era necessário (ainda por cima agora, no final do plano de ajustamento) manifesto algum...
E quanto à dívida em si?
Neste assunto, acho que podemos concordar com o "pai da
dívida" (José Sócrates): a dívida pública não se paga, mas gere-se. Só que,
infelizmente, isso só é possível se o défice for nulo.
Ora, só se anulam défices (nomeadamente o das contas
públicas) aumentando impostos e/ou reduzindo despesas. Tudo o resto é poeira para os nossos olhos. Principalmente as ilusões de crescimento.
O aumento dos impostos permitirá manter o Estado na sua
dimensão atual. Mas isto é uma verdade "curta" defendida pelos
signatários "cigarras"...
O corte das despesas reduzirá o Estado, naquilo que faz e no
que produz. Dirão as "formigas". Ora, menos Estado Social (ou o seu desmantelamento, utilizando a verborreia "cigarra").
Avaliando friamente, parece que podemos ir por qualquer dos
lados. Consoante formos de esquerda (cigarra) ou de direita (formiga). Verdade?
Falso.
A primeira opção choca com uma
realidade simples: não há espaço para mais impostos. E até estes, os atuais,
estão a pressionar de tal forma a economia que esta acaba por mirrar. E sai. Para outros
locais. Com ela leva a produção, o trabalho, a riqueza, o estado social...
Pelo que não há dois caminho. Só há um. O Estado tem que se
ajustar. Tal como já se ajustaram as empresas e a população.
Infelizmente, o Estado não é uma entidade abstrata. O Estado
são as pessoas e as empresas... Pelo que, no seu processo de ajustamento, acaba por levar todas
essas pessoas e empresas com ele. No seu processo de ajustamento, o Estado “apertará”
ainda mais as pessoas e as empresas.
Mas clarifiquemos (Cavaco disse tudo e disse bem):
vamos ter que ajustar mais um pouco e viver por aí... Em austeridade? Não.
Simplesmente com o que temos. É pouco? É muito? Bem, isso é relativo. Será
muito visto da Etiópia e pouco visto da Alemanha... Será sempre pouco visto de
dentro. Mas isso é bom pois motivará mudanças que nos poderão permitir voltar a
lutar por melhorias.
Não vivemos numa crise (em U, V ou W) em que se volta ao ponto inicial. É que esse ponto inicial era o do governo Sócrates, ilusório e hiperinflacionado. Não. Estamos em ajustamento, em L. De regresso à realidade que se situa mais abaixo. Isso é empobrecimento? Talvez. É o que acontece quando vivemos á conta de empréstimos por muito tempo.
Não vivemos numa crise (em U, V ou W) em que se volta ao ponto inicial. É que esse ponto inicial era o do governo Sócrates, ilusório e hiperinflacionado. Não. Estamos em ajustamento, em L. De regresso à realidade que se situa mais abaixo. Isso é empobrecimento? Talvez. É o que acontece quando vivemos á conta de empréstimos por muito tempo.
Mas, concluindo, poderíamos até juntar ainda
outra saída: gastar e gastar (e será que nos emprestam para isso?) o que permitiria manter
o défice e os benefícios sociais à conta de empréstimos externos. Ou seja,
voltaríamos aos bons velhos tempos socialistas, onde se vivia bem (e nem sabíamos). Mas aí,
será a morte de todos. Cigarras e Formigas. Pois um ótimo estado social hoje à conta de empréstimos levaria a um estado social inexistente no futuro quando as próximas gerações terão que se ajustar às existências do momento e ainda por cima (egoismo das atuais gerações) terão que pagar pelos empréstimos anteriores, assumidos
para suportar os benefícios das gerações
anteriores.
Resta saber se os jovens vão achar que vale a pena ficar por cá à espera deste futuro. Penso que não...
Resta saber se os jovens vão achar que vale a pena ficar por cá à espera deste futuro. Penso que não...
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