A demografia é o nosso grande problema para o futuro.
O que deriva (mas não apenas) do mercado de trabalho presente. Que está profundamente mal regulado.
O desemprego é uma chaga social significativa e, mantendo o sistema
actual, não se vislumbra qualquer saída.
Não haverá crescimento económico que permita qualquer recuperação do
mercado de trabalho e dos valores do desemprego. Mesmo que cheguemos ao
reequilibrio orçamental (défice zero, depois de mais alguma asteridade, sobre a
actual), a economia poderá reagir mas nunca com a criação de emprego. A
capacidade produtiva já instalada e a evolução tecnológica constante serão factores
mais do que suficientes para acomodar e garantir os níveis de crescimento possíveis...
Mantendo as coisas, sem criação líquida de trabalho (e emprego), os
jovens continuarão a sair. De nada lhes valerá se manterem no País. Um País que
lhes garante poucos empregos (mal pagos, em substituiçao dos reformados), mas
principalmente, o desemprego e apoios sociais cada vez menos relevantes. Tudo
isto apenas porque a geração anterior viveu e usufruiu acima das suas
possibilidades e lhes deixa apenas as dívidas para pagar...
Como é evidente, a esmagadora maioria desses jovens sai do País.
De que lhes vale ficar? Num País empenhado pela geração anterior?
Desemprego ou trabalho subpago devido a hiperexigência fiscal para
pagamento de dívidas públicas? Não vale a pena...
Em resultado, esta geração, que seriam os pais dos próximos bébes,
garantes do nosso futuro como País, sai. E em massa. E dessa forma, leva com
eles, todas as nossas possibilidades de termos um futuro.
É preciso mudar já e urgentemente.
E não há outra saída: é necessário, de imediato, ajustar o processo de divisão do
trabalho. Não vai haver mais trabalho e temos que lutar por manter os nossos
jovens no País. Temos que nos reequilibrar socialmente, reduzindo as taxas de
desemprego para os níveis desejáveis. E então, tentar crescer a partir daí.
O Governo já fez o trabalho prévio. Igualou o tempo de trabalho público referente a um emprego (unidade) para as 8 horas. E manteve, até onde foi possível, os cortes
remuneratórios necessários ao reequilibrio das suas contas. A taxa de desemprego subiu e estabilizou. Mas dali não sairá e
as reduções da mesma serão inóquoas e de décimas. Sempre insuficientes para o equilíbrio social necessário.
Chegou a altura de repor os salários anteriores (forçado ou não pelo
Tribunal Constitucional) e de dar o passo decisivo na legislação do trabalho: permitir (e incentivar fiscalmente) a redução de 20% do
tempo de trabalho com ajuste remuneratório proporcional a todos os
trabalhadores. Por decisão unilateral (facultativa) de todos os empregadores.
Assim, o trabalho disponível seria dividido e aberto à nova geração. As
folhas salariais cairiam 20% e, nos sectores e áreas onde a produção é uma
realidade, abrir-se-iam novos postos de trabalho. No Estado, idem: os custos
salariais cairiam os 20% necessários ao equilíbrio orçamental e só nas áreas
onde se justificasse, seria criado novo emprego público (se houver desempregados
nessas áreas) ou se manteriam as cargas horárias actuais quando o mercado de trabalho
não respondesse a efectivas necessidades reais de serviço público.
Na área privada, este processo seria acompanhado com benefícios
fiscais, potenciando a opção pela redução do tempo de trabalho dos actuais
empregados e por nova contratação.
A redução dos 20% do tempo de trabalho seria protegida para os
trabalhadores com rendimentos abaixo dos 120% do salário mínimo. Aí, a redução
seria negociada.
Os resultados seriam todos positivos:
O Estado equilibrar-se-ia orçamentalmente.
Os custos sociais reduziam-se.
O desemprego cairia.
Acabava a emigração e o futuro abriria portas ao País.
A qualidade de vida melhoraria (menos horas de trabalho diárias) e, assim
as reduções salariais seriam mais aceitáveis.
Estar-se-ia perante um processo de solidariedade social efectivo, redistribuindo,
não a riqueza (através de subsídios, o que faria usualmente a esquerda), mas o
trabalho. Que é realmente, com a globalização, um bem raro que terá de ser cada
vez mais valorizado e tratado cuidadosamente, para bem da sociedade e do seu
futuro.
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