novembro 12, 2013

A culpa é sempre dos outros

Há uma corrente de opinião que coloca o ónus dos problemas que vivemos nos dias de hoje, na alta finança, nos mercados financeiros e nos seus tentáculos, os bancos. Um enorme polvo que nos aperta até ao tutano.

É certo, sabido e reconhecido que esse polvo usa e abusa dos ingénuos que não acreditam no livre arbítreo e na boa conduta.

A verdade é que todos esses financeiros usaram e abusaram das lideranças democráticas dos fracos países do Sul europeu. Estes, na ansia de ganhar eleições, prometeram e cumpriram. Elevaram as suas despesas à estratosfera (bem além das suas possibilidades) recorrendo, para isso, à alta finança internacional. Esta, simplesmente, emprestou até onde achou possível, até ao ponto onde, a partir daí, entendeu ser arriscar demais para ver o seu dinheiro de volta...

Dessa forma, as lideranças “cigarras” do Sul fizeram subir o nível de vida das suas populações de uma forma totalmente ilusória (com dinheiro emprestado) e criaram a ideia falsa que aquele era um nível de vida ao qual as populações votantes tinham direitos estabelecidos (o que também "entende" a nossa Constituição).

É verdade, também, que os “judeus” usurários da alta finança ganharam e ganham muito com esta situação. Mas o muito é muito relativo. É muito para eles, mas apenas uma pequena parte da montanha da dívida. Ganham taxas, comissões, prémios e juros. E também, corromperam. Mas um pouco de muito é sempre muito quando dividido por poucos.

É sempre relativo esse valor. Serão alguns pontos percentuais da enorme dívida acumulada. Pois a esmagadora maioria dos dinheiros emprestados veio mesmo para a economia. Obras públicas (rotundas e túneis), serviços públicos (comboios, metro, rodoviária), ordenados, pensões e subsídios. Todos eles com um sobre-valor com origem em empréstimos. Que somados constituem um défice que, por sua vez, ano após ano, cria e acumula uma dívida. Que arrasta, com ela, juros que consomem e pesam nos orçamentos de Estado.

Resta falar sobre o lívre arbítrio.
Podemos ser “cigarra” ou “formiga”.
Podemos ser drogados e a culpa disso não é do traficante. Apesar de ser do interesse do traficante que o drogado consuma e leve outros a consumir. É garantia de negócio futuro.
Podemos ser alcoolicos e não atribuir culpas ao barman.

Pedimos emprestado e assinamos os contratos. 
Demos a ganhar a quem nos emprestou. Mas não é possível, agora, colocarmos as culpas todas em cima dos credores (as cigarras socialistas que sabem dividir o bolo muito bem, mas não fazem ideia como criar esse bolo) e de quem nos empresta hoje (o que mais ninguém faz), a juros que mais ninguém cobra : a troika.

E que fique claro: entendo que há ladrões a culpar (exemplo BPN) e líderes a julgar (exemplo Sócrates). Mas todos nós vivemos acima do que era possível com base naquilo que nos deram (ordenados, pensões, subsídios, obras públicas, serviços públicos subsidiados), com custos bem acima do que produziamos.

E hoje, pagamos por isso.

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