maio 24, 2012

Dinheiro no colchão e… na Alemanha

É notícia de hoje.
A Alemanha financia-se a 0%.

Esta situação explica muito.
Explica porque não quer, a Alemanha, os Eurobonds. Aí, as suas taxas de financiamento fariam a média com as dos Países periféricos. Não com os países endividados, nem com os países sem crescimento no futuro. Pois, nesse barco está, também, a Alemanha. Embora tenha viagem marcada apenas para a viagem seguinte…

Explica também o erro de apreciação dos “contribuintes alemães” que acham estar a financiar os países em dificuldades. Errado. São os recursos destes países que, não encontrando ambientes e aplicações seguras no seu território (desde os títulos de dívida, escaqueirados pela situação da Grécia, até aos depósitos bancários, cada vez mais em risco - veja-se a situação em Espanha) que estão a financiar a Alemanha. É exatamente ao contrário.

Seguindo o percurso do dinheiro, quando a Alemanha financia a dívida da Grécia, acaba por ser o dinheiro grego, inseguro, que foge dos bancos gregos e que vem para a Alemanha a 0%. E que volta à Grécia, nas mãos da troika e forçando a austeridade, a 5%, 6% ou mais ...

A verdade é que se há investidores institucionais que colocam disponibilidades a 0%, na Alemanha, que mensagens passam esses entendidos à população?

É simples: tirem o dinheiro dos bancos e coloquem-no no … colchão.

Não há qualquer saída no processo em espiral em que vivem os países desenvolvidos. A globalização tratou de colocar o crescimento junto à produção. A riqueza onde está o trabalho. E para lá flui o capital, o know-how e o poder.

Entretanto, continuamos a ouvir as vouvuzelas do socialismo da terceira via a zurzirem sobre a situação. Após dezenas de anos de poder, nos países desenvolvidos, aumentaram os níveis de vida das suas populações, nomeadamente edificando estados sociais rígidos e benevolentes. Infelizmente, tudo isso foi feito acima da capacidade produtiva, à custa de défices sucessivos e a crédito.

Ao fim de todos esses anos, chegamos à situação atual.

Níveis de vida muito bons (alguns, hoje, vão dizendo que antes eram ricos e não sabiam) insustentáveis e fuga sucessiva (deslocalização) do trabalho. Menos trabalho, mais desemprego e um peso cada vez maior sobre o edifício social montado pelo socialismo da terceira via. Menos economia, recessão, baixa dos níveis de vida. O que não é o caminho errado. Pois precisamos de ajustar, em baixa, de forma realista.

Mas, entretanto, a democracia fica em cheque.
E é isso que Mário Soares deveria ter em conta ao zurzir sobre a troika.
Porque nenhum partido ganha eleições a prometer austeridade. Mas a democracia permite que ganhem os populistas. Os que prometem (de forma insustentável) uma melhor vida para os eleitores ou, no mínimo, a  manutenção dos níveis atuais.
Todos queremos crescimento. Mas o crescimento é impossível. Não vai acontecer nunca… (pelo menos enquanto não cairmos muito mesmo).

Daí ser fundamental que venha a troika e que seja ela a impor o que é difícil de fazer. E permitindo que os eleitos possam dizer que discordam, que queriam outra coisa, mas que não têm solução face à situação em que nos encontramos, levados pela ideologias e processos socialistas de terceira via. 

O maior perigo será dar lugar a novos “Marios Soares” e a outros que com os seus socialismos e/ou populismos. Aí, teremos o caldo entornado.

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