março 20, 2011

E o que vem a seguir?

Considerando que o PSD e Cavaco não caiem na esparrela de Sócrates, o Pais manter-se-há no limbo.
O limbo necessário, na fase pré-ajuda externa.
Que demorará pouco.
Enquanto Sócrates e Teixeira conseguirem adiar despesas (quando começam a pagar os 6,3 mil milhões de juros orçamentados?) e antecipar receitas.
Enquanto Constâncio_6.83 conseguir adiar a decisão do BCE (de Merkel) de “retirar o tapete” a Portugal.
Afinal, o financiamento do BCE aos Bancos portugueses não é mais do que compra encapotada de dívida soberana. E, para mais, com lucros significativos (compra a 1% e colocação a 7,5%) para os bancos intermediários que, acabam por, assim, “secarem” a economia nacional, face a esta alternativa que constitui tão chorudo “negócio”.

Tudo se deverá consumar nos próximos (poucos) meses.

Entretanto, o País vergar-se-há aos PECs anteriores e próximos, antecipando muitas das hipotéticas medidas FMI. Menos economia e mais desemprego. Juros (cada vez) mais altos a pagarem no vencimento (quem vier depois) destes novos acumulados de dívida soberana, que Sócrates não tem pejo em anotar como sucessos.

Tudo inevitável. Em resultado de anos de gestão pública danosa.
Medidas incontornáveis que devem ser tomadas por quem as tornou necessárias. Para que possa ser responsabilizado.

Mas temos que pensar no dia seguinte. E esse dia seguinte, para além de todos os problemas já a notados, trará um novo, que resultará da subida de juros pelo BCE (Euribor).

Essa subida está para breve e será um processo gradual, forçado pela recuperação económica de algumas economias mais fortes, pela inflação motivada pelo crescente custo das energias (nomeadamente do petróleo) e matérias-primas (alimentares inclusive) e pelo custo a pagar, globalmente, pela crise de 2008 e, pelos recentes acontecimentos no Japão e Norte de África.

As famílias portuguesas devem muito. Principalmente pelas habitações adquiridas.
Os Bancos portugueses estão, também, fortemente endividados nesta área.

Em 2007, aquando do último pico dos juros, foram “esticados” os prazos possíveis e reduzidos, ao mínimo, todos os spreads.

As famílias estão totalmente limitadas pelos PECs sucessivos. Esta subida dos juros no crédito habitação não terá forma de ser acomodado por muitas (mas mesmo muitas) delas. E os bancos não terão soluções nem folgas em carteira. Os incumprimentos poderão ser massivos e duros. Para as famílias, mas principalmente para os bancos que poderão se ver, de repente, com um défice de tesouraria e uma carteira de hipotecas a se vencerem, num momento em que as famílias não têm capacidade de reacção e, eles próprios, não têm financiamento extra e liquidez disponível.

Um drama.

É necessário preparar uma reacção.
Uma das possibilidades é cada família impossibilitada de cumprir as suas responsabilidades de crédito poderem efectuar um downgrade da sua habitação. Se não pode pagar 600 por um T3 numa zona boa, talvez possa pagar 500 por um T2 na mesma zona ou por outro T3, numa zona menos boa.

O problema é a forma como se poderá concretizar este “downgrade”.

A venda-compra não é solução.
O IMT envolvido e o spread do novo contrato serão tão penalizantes que os ganhos do downgrade se esfumarão.

Restará o mercado de arrendamento.
A solução arrenda-aluga.
Esta possibilidade não altera a posse do bem, nem prescinde dos (bons) termos contratuais vigentes. Os prazos e spreads actuais são irrepetíveis e devem ser preservados até quando for possível.
Cada família coloca a sua habitação no mercado e procura outra, com custos inferiores. Ou seja, concretiza o necessário downgrade, ganhando a diferença de custos entre a renda que passa a usufruir e aquela que passará a pagar. Mais tarde, quando a situação melhorar, tudo se poderá reverter.

Infelizmente, esta solução deverá ser dinamizada de alguma forma, pois é necessária “massa crítica” – uma boa carteira de habitações - para levantar esta alternativa. Os mais interessados serão os bancos. Poderá sair daí a iniciativa de criação dessa carteira. Se forem capazes de não se ligarem, egoisticamente, à possibilidade de fazerem cair os contratos actuais, com condições – pare eles -  pouco atractivas. Claro que a consequência deste procedimento será bem pior, para todos e para eles também…

Teremos que começar a ver alguma coisa para além das tricas actuais. É preciso começar a desenhar o futuro, depois de afastados os responsáveis pela actual situação. E depois de sermos colocados no nosso lugar, ao nível do que somos capazes de produzir (para viver e para pagar a dívida criada pelo que fizeram- eles – e usufruímos – nós – nos últimos anos). 

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