Porque somos tão cegos e surdos no que se refere à
realidade? Porque não a enfrentamos olhos nos olhos?
A verdade é que a saída da troika não nos vai trazer de
volta os dias faceis do PS e de Sócrates. Não estamos numa crise momentânea, em forma de U, que vai acabar numa situação ao nível do ponto de partida. Já escrevi
isto N vezes. Estamos num processo de ajuste. E o ajuste só estará completo
quando o défice se anular. Quando ficar a zero. Até lá, será sempre a descer. Tal como um avião aterra numa pista: vem de cima e termina em baixo... Em forma de L.
O défice público estará em 2014 nos 4%. Temos vindo a
faze-lo descer (todos temos pago por isso) 1 a 1,5% ao ano. A este ritmo (sim,
mais cortes nos rendimentos e/ou mais impostos) teremos ainda 3 anos até ao
défice zero.
O Estado, com Sócrates gastava mais 20% do que recebia (considerando um défice de 10% do PIB e simplificando a partir de uma despesa pública equivalente a 50% do PIB). Isso
engrossou a dívida até níveis que impossibilitaram a nossa vida (os juros a pagar
subiram e as taxas também). Ficamos na bancarrota.
Hoje, o Estado está mais pequeno. Gastará em 2014 apenas
mais 8% do que recebe. Mas não acabou o ajuste. Precisa de desbastar esses
8%...
A saída da troika apenas indica que percorremos a parte
inicial do percurso. Quem vier (ou ficar) terá que completar o trabalho. Mas o
que foi feito até agora, invertendo as praticas socialistas anteriores, deu
confiança a quem nos empresta e, por isso, temos (voltamos a ter) quem nos
empresta para refinanciar a dívida existente e o valor do défice (que, como
todos os défices, engordam a dívida).
Seguro está inseguro. Pois sabe que mente com todos os
dentes ao dizer que vai inverter o processo da austeridade. Não vai, não pode,
não tem dinheiro, e quem o tem, não lhe vai emprestar porque não confiam nele e
no que promete. O tempo da cigarra ainda não chegou. É preciso mais formiga...
Hollande, Seguro, venha o diabo e escolha.
O Estado (também o social, dos serviços públicos, das
pensões e subsídios) terá que continuar a emagrecer e a reduzir. Até se ajustar
à riqueza produzida no País. Mas, nesta matéria há políticas a corrigir. E
nunca para o que defende a esquerda, pois a austeridade terá que continuar. Mas
numa outra direção que já indicamos aqui. Políticas de gestão da dívida (mais
interna, menos externa) e de redistribuição do trabalho existente. Neste caso,
através dum exercício de partilha comunitária, de solidariedade social interessante
que reduziria os rendimentos de quase todos mas que, em contrapartida, faria
subir a sua qualidade de vida (menos tempo de trabalho), ajustaria as empresas
e o Estado e reduziriam o desemprego e os consequentes custos sociais. [Ler aqui]
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