março 12, 2012

Regresso (?) aos mercados em 2013

Diz Passos Coelho - e não podia dizer outra coisa - que regressamos aos mercados financeiros em 2013. Ora, não regressamos nós, nem lá irão muitos mais.

Os mercados financeiros, tal como nós os conhecemos, nunca mais voltarão. O caso grego (haircut forçado, mesmo que digam que não) garantiu isso mesmo. A partir deste momento, as aplicações financeiras em refinanciamento de dívidas soberanas passarão a ser evitadas por qualquer investidor que preze o seu trabalho. As notações das "horríveis" agências internacionais apenas reflectem esta simples situação.

Deixou de fazer qualquer sentido a aplicação de recursos financeiros (os que estiverem disponíveis) em refinanciamento de dívidas soberanas. Sejam elas quais forem, incluindo as de países que hoje damos como seguros. Acabou.

O dinheiro e a liquidez que se liberte (poupanças e lucros) encontrarão sempre o seu caminho, em direcção aos mercados financeiros globais, para longe desse tipo de aplicação.

Hoje, nos mercados financeiros ao dispor das dívidas soberanas dos países desenvolvidos, vive-se um estado de "mentira", em tudo paralelo ao que se viveu, em Portugal, em 2011. Quase que poderíamos dizer que terá sido Constâncio que levou a receita...

Não há mercado nenhum a suportar os financiamentos das dívidas soberanas europeias. Há apenas um "teatrinho" onde o BCE (impedido de emprestar aos países) liberta recursos, emprestando dinheiro aos Bancos privados a juros de 1%. Os Bancos privados tomam-no, com o compromisso de o aplicarem, em parte, onde lhes indicarem... 
E assim se monta um "teatrinho" que vai garantindo os refinanciamentos actuais, empurrando o problema com a barriga, para a frente... ao ritmo que os verdadeiros investidores vão retirando paulatinamente, os seus recursos do sistema, e à medida que as tranches aplicadas anteriormente, se vão vencendo.

Remedeio puro e duro. Nada se resolve, tudo se adia...

Com as economias desenvolvidas - estruturalmente - em queda produtiva, em défice e a produzir dívida crescente, toda a liquidez colocada no mercado foge, assim que se vê liberta... E foge para os mercados emergentes. Não só em pagamento de bens e serviços importados, como à procura de aplicações seguras e rentáveis.

Mas volta.
Nas mãos de investidores "emergentes", que os aplicam em compras de empresas e conhecimento (know how) ocidental, e no refinanciamento de dívida e no suporte dos défices "desenvolvidos", criando uma dependência (financeira, económica e política) sobre os devedores. Que lhes poderá ser útil hoje e no futuro.

O ajuste será difícil e não se limitará aos países aparentemente mais frágeis. Todos os países desenvolvidos com dívidas substanciais (em termos relativos ou absolutos) seguirão o mesmo caminho. Pois "secará" inevitavelmente toda a liquidez que antes era seguramente aplicada em dívida soberana. Nem a da Alemanha ficará a salvo. Afinal, a liquidez que ali está, justifica-se pelos excedentes comerciais originados nas trocas com países que entrarão em austeridade forçada (serão muitos) e nos recursos desses mesmos países que ali são colocados (nos bancos alemães) como último recurso, ainda válido no momento presente. Mas que o deixará de ser, em pouco tempo. Pois a fluidez e o movimento livre dos recursos financeiros, os conduzirão, também, para aplicações "emergentes", seguras e rentáveis.  Bem longe das dívidas soberanas...

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