janeiro 25, 2012

Grécia e o “perdão” - consequente - da dívida

Este é mais um dos erros da comunidade internacional. Achar que é possível que dívidas e compromissos soberanos podem, simplesmente, serem assim descartados.

Não podem. Pelo menos sem consequências graves.

Se isso acontecer, todas as outras dívidas soberanas perderão valor. E, aí, não para AA+, mas para os Bs e Cs. Pois, se a solução apresentada para a Grécia é um haircut, porque não irá ser essa mesma solução ser aplicada nas situações futuras que aí virão?

Se hoje, as disponibilidades financeiras europeias ainda se concentram na Alemanha (e em mais um ou outro país da zona) o que provoca a ilusão de que a Alemanha “está bem” e cresce, amanhã, até isso será impossível. Pois até esse dinheiro, depois de umas voltas nos mercados (passa pelos Bancos privados, pelo BCE, pelos FEEFs, FMI, etc), acaba nos mesmos sítios – errados - remediando défices públicos e não só.

Não demora nada que, até na Alemanha, as agências de rating reflectirão a situação e farão o que têm de fazer e aí, o dinheiro passará todo para os países emergentes, onde já está o trabalho, a riqueza e o crescimento sustentado (e não de outro tipo, baseado em défices e dívida crescente).

Daí que toda a zona euro tremerá (e cairá) com soluções (de remedeio) deste tipo.

A solução imediata, para a gestão das dívidas passa por uma declaração unilateral do País devedor que:

1)Assume toda a dívida que detém. Sem haircuts. Mas que a partir dessa data e durante um período mais ou menos longo (20 a 30 anos), todas as tranches de dívida que se vão vencendo serão substituídas por nova dívida (obrigações) de muito longo prazo e com uma taxa de juro referencial (desconto BCE, Euribor ou qualquer outra).

2)Que esses novos títulos pagam – religiosamente - juros anuais acrescidos de uma amortização mínima de 1%.

3)Que esses novos títulos podem ser imediatamente transaccionados no mercado. E que até poderão ser comprados por uma qualquer “nova” troika, salvaguardando quaisquer situações sistémicas que poderão ser desencadeadas neste processo. E passa a resumir-se a este mecanismo a intervenção internacional neste processo. Mas isto, apenas no interesse dos credores e não do devedor.

4)Garantida a dívida (mesmo que, na prática, seja um congelamento da mesma), todo o comércio internacional mantém-se com o País em causa, mas, agora, através de um sistema de pagamentos “a pronto”. O país inibe-se de procurar qualquer financiamento internacional e inicia um processo interno em que terá de viver em défice zero. Ou seja, terá de viver com o que produz.

Desta forma, os credores não perdem as suas aplicações, a menos que as queiram vender de imediato. Aí, já no mercado, assumem os custos do risco que adoptaram na aquisição daquela dívida soberana.

E aí, estancada a situação de rotura, cada País terá o seu tempo de adaptação para uma nova existência sustentada (num ambiente global) totalmente diferente daquela em que vivem nas últimas dezenas de anos. E onde os Países desenvolvidos terão de se adaptar a um processo recessivo que passará a ser a regra, natural e assumido. E se assim for, poderá ser controlado.

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