Este é mais um dos erros da comunidade internacional. Achar que é possível que dívidas e compromissos
soberanos podem, simplesmente, serem assim descartados.
Não podem. Pelo menos sem consequências
graves.
Se isso acontecer, todas as
outras dívidas soberanas perderão valor. E, aí, não para AA+, mas para os Bs e
Cs. Pois, se a solução apresentada para a Grécia é um haircut, porque não irá
ser essa mesma solução ser aplicada nas situações futuras que aí virão?
Se hoje, as disponibilidades
financeiras europeias ainda se concentram na Alemanha (e em mais um ou outro país
da zona) o que provoca a ilusão de que a Alemanha “está bem” e cresce, amanhã,
até isso será impossível. Pois até esse dinheiro, depois de umas voltas nos
mercados (passa pelos Bancos privados, pelo BCE, pelos FEEFs, FMI, etc), acaba
nos mesmos sítios – errados - remediando défices públicos e não só.
Não demora nada que, até na
Alemanha, as agências de rating reflectirão a situação e farão o que têm de
fazer e aí, o dinheiro passará todo para os países emergentes, onde já está o
trabalho, a riqueza e o crescimento sustentado (e não de outro tipo, baseado em
défices e dívida crescente).
Daí que toda a zona euro tremerá (e cairá) com soluções (de remedeio) deste
tipo.
A solução imediata, para a gestão
das dívidas passa por uma declaração unilateral do País devedor que:
1)Assume toda a dívida que detém.
Sem haircuts. Mas que a partir dessa data e durante um período mais ou menos
longo (20 a 30 anos), todas as tranches de dívida que se vão vencendo serão substituídas
por nova dívida (obrigações) de muito longo prazo e com uma taxa de juro referencial
(desconto BCE, Euribor ou qualquer outra).
2)Que esses novos títulos pagam –
religiosamente - juros anuais acrescidos de uma amortização mínima de 1%.
3)Que esses novos títulos podem
ser imediatamente transaccionados no mercado. E que até poderão ser comprados
por uma qualquer “nova” troika, salvaguardando quaisquer situações sistémicas
que poderão ser desencadeadas neste processo. E passa a resumir-se a este
mecanismo a intervenção internacional neste processo. Mas isto, apenas no interesse dos credores e não do devedor.
4)Garantida a dívida (mesmo que,
na prática, seja um congelamento da mesma), todo o comércio internacional mantém-se
com o País em causa, mas, agora, através de um sistema de pagamentos “a pronto”.
O país inibe-se de procurar qualquer financiamento internacional e inicia um
processo interno em que terá de viver em
défice zero. Ou seja, terá de viver com o que produz.
Desta forma, os credores não
perdem as suas aplicações, a menos que as queiram vender de imediato. Aí, já no
mercado, assumem os custos do risco que adoptaram na aquisição daquela dívida
soberana.
E aí, estancada a situação de
rotura, cada País terá o seu tempo de adaptação para uma nova existência sustentada (num ambiente global) totalmente diferente daquela em que vivem nas últimas
dezenas de anos. E onde os Países desenvolvidos terão de se adaptar a um
processo recessivo que passará a ser a regra, natural e assumido. E se assim
for, poderá ser controlado.
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